quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A transfiguração da pátria (10) - Tempo de esperança

Salvador Dali - Araña de noche... Esperanza (1940)

É um tempo de pequenas catástrofes,
de astros saídos das órbitas,
a miséria branca sob a abóbada negra do céu.
É um tempo de ansiedades nocturnas,
as nuvens suspensas, anjos disformes,
paisagens de salitre na alvenaria da terra.

Mãos ossudas e hirtas desfazem as morfologias,
quebram o vidro que nos protege da noite
e ateiam um rasto de sangue na tua fotografia.
No palco, insectos zumbem sobre o labirinto,
cantam, desesperados, os trapezistas tenores,
ri-se a esquálida figura da morte.

É um tempo de perdidas esperanças,
de imagens que se movem devagar sobre a tela,
de uma cinematografia sem fogo nem alma.
É um tempo de cidades despovoadas,
os  semáforos mudos, carros parados,
bocas que se abrem para a amargura da sombra.

2 comentários:

  1. Chamar-lhe-ia mais, tempo de aflição e desespero.

    Abraço

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    Respostas
    1. Os tempos estão tão confusos que, por vezes, esperança e desespero se confundem.

      Abraço

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