A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Não devemos iludir a situação. As nossas contas estavam e estão
catastróficas e a nossa liberdade, enquanto país soberano, estava e continua
ameaçada. Não nos enganemos com a possibilidade de um caminho que mantivesse a
anterior situação e que nos permitisse continuar a viver como até aqui, apesar
do défice do Estado e da fragilidade da economia. Perante este quadro, se
fôssemos governados por políticos sensatos, moderados e conhecedores do país, o
passo essencial teria passado por quatro pontos.
Em primeiro lugar, dizer, logo no início, toda a verdade, de forma
clara e distinta, às pessoas sobre a situação e explicar, também com clareza,
como é que se chegou onde se chegou, custasse a quem custasse. Em segundo
lugar, explicar as consequências de não se fazer nada e tornar evidente a
necessidade de um pacto entre todos para um esforço que lembraria o esforço de
uma economia em tempo de guerra. Em terceiro lugar, assumir uma posição de
firmeza negocial perante os delírios terroristas da troika (claro que
havia margem de manobra, pois todos têm medo, já que ninguém sabe o que
aconteceria à Europa, inclusive à Alemanha, se um dos países do sul entrasse em
bancarrota). Em quarto lugar, desenhar uma política de compromisso nacional
onde ficassem claras duas coisas: 1. a justa distribuição de sacrifícios por
todos, ricos ou pobres, trabalhadores ou empresários; 2. o programa a ser
executado, com uma avaliação autêntica das suas consequências e dos seus
resultados.
Portugal tem a infelicidade de ser governado por um conjunto de gente
impreparada e fanática. Gente que preferiu e prefere a mentira à verdade. Gente
que, em vez de pugnar por um pacto entre os portugueses, decidiu fazer uma
autêntica guerra civil, rebaixando pobres, submetendo trabalhadores e humilhando
a classe média. Gente que, em vez de representar Portugal perante a troika,
se tornou o agente da troika contra os portugueses. Gente que, no seu
fanatismo ideológico, não soube nem sabe o que é o compromisso e a justa
medida, que escolheu os ricos contra os outros, gente que não está interessada
na compreensão e avaliação da sua acção.
Se não tivesse sido assim, talvez o próximo Orçamento de Estado fosse
um momento de viragem e um estímulo para uma sociedade mais livre, dinâmica,
coesa socialmente, a dar passos na sua recuperação. Com o actual governo, o
Orçamento vai continuar a ser um poderoso instrumento de guerra dos fortes
contra os fracos e um dispositivo para dividir ainda mais o país. Passadas as
eleições autárquicas, o Orçamento virá mostrar que a guerra não tem fim à
vista.
Portugal é o que é e o que sempre foi (de vez em quando distraiu-se), tem a gente que tem e sempre teve (de vez em quando enganou-se).
ResponderEliminarDe resto, tudo normal nada de que me deixe espantado, mesmo quando simulo...
Abraço
Pois, a questão é mesmo essa, por vezes há que simular espanto, há que fingir.
EliminarAbraço