A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Talvez o fenómeno mais importante na política europeia contemporânea
seja o crescimento eleitoral da extrema-direita. Parece ser a reacção dos
eleitorados à morte do Estado Social, à destruição do emprego devido à
globalização e à revolução tecnológica, ao peso, em certos países, de uma
imigração com valores culturais e existenciais antagónicos aos autóctones, ao
desprezo pelas elites governativas comprometidas com a globalização e, por fim,
ao descrédito das esquerdas não-governamentais. O caso francês parece ser
exemplar na conjugação destes factores.
E em Portugal, haverá condições para a emergência de uma direita
radical? Encontramos factores que são propícios ao nascimento da
extrema-direita. A destruição do Estado social, o desemprego, o desprezo pelos
partidos do arco governativo e um acentuado ressentimento perante as elites
financeiras e judiciais: tudo isto está a criar um território pouco propício
aos valores democráticos. Se a imigração não gera, entre nós, situações de
conflito social, já a emigração pode ser um factor favorável à propagação de
sonhos autoritários.
Neste momento, há dois factores que impedem, no nosso país, a
emergência de um forte partido da extrema-direita. Em primeiro lugar, a
capacidade que o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda têm para concentrar,
dentro do actual regime, o descontentamento mais radicalizado. Em alguns
países, o crescimento da extrema-direita está directamente ligado à implosão
dos partidos de esquerda. Em segundo lugar, uma certa passividade do povo
português – aquilo a que se costuma chamar brandos costumes – leva-o a olhar
com muita desconfiança as manifestações mais ”viris” ao gosto dos extremistas
de direita.
No entanto, há uma possibilidade não desprezível da emergência de uma
direita radical, de tonalidade nacionalista e iliberal. A contínua degradação
da situação social e política e o aumento do ressentimento social podem chegar
a patamares que produzam as condições para que a direita radical surja e se
implante em Portugal. Mas, para tal, será necessária uma outra condição
- a emergência de um chefe que, apresentando-se como nacionalista e não
liberal, combine carisma e uma aparência de serenidade e tranquilidade, para
além de competência política. Uma direita radical em Portugal, que possa
ameaçar os fundamentos democráticos, nunca poderá ter o ar desordeiro e
revolucionário que, por norma, a extrema-direita gosta de dar.
A direita radical ainda não existe por cá, mas o terreno parece estar
cada vez mais disponível.
Receio não estar de acordo. A direita radical está cá e está infiltrada no poder, se bem que travestida de liberal.
ResponderEliminarEles "andem" aí, só que de pantufas, porque a botifarra ainda não é necessária e sabem que o folclore não é eficaz para já e podia transformar essa emergência num epifenómeno.
Pelo sim pelo não, convém estar atento.
Abraço
Esta direita radical é diferente da extrema-direita. A sua radicalidade reside na subserviência à "pureza" do mercado. A outra é pouco liberal e não tem grande consideração pelas liberdades. Seja como for, não é despropositado ver em algumas manifestações contra o Tribunal Constitucional um anseio de suspensão dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Isto significaria um deslizar para terrenos nada liberais.
EliminarAbraço