quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Transfiguração da pátria (11) Sonho de uma noite de outono

Peeter Huys - El Infierno

Sonho uma praia a anoitecer no outono,
o rumor das vagas, o grasnar das gaivotas,
fogo e passos perdidos no mar.
O vento desenha silhuetas na areia
e na linha de água, plásticos, madeiras,
a bóia perdida de um barco abandonado.

Desço ao inferno pela corda sonâmbula.
Anjos caídos, grutas de fogo, uma caravela.
A mudez das imagens, palavras soletradas,
um filme de sangue a cintilar na noite.
Água de enxofre a arder na praia sonhada
e um rosto perdido no silêncio do coração.

Mergulho na água a ferver e a terra treme,
as trevas iluminam-se, a luz negra,
lençol de pus sob a melancolia do céu.
Do canil, soltam-se a raiva e o ódio. Uivam,
traçam pelas rochas caminhos de sedição
e sentam-se à espera que chegue a hora.

2 comentários:

  1. Ainda se Freud me ajudasse...
    Eu cá prefiro chamar-lhe pesadelo. Terrivelmente belo.
    Abraço

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