sábado, 26 de outubro de 2013

Protestos e murmúrios

Carlos Orozco Romero - O protesto (1939)

Deve ser para muita gente de esquerda um mistério o facto dos protestos contra o actual estado de coisas ser relativamente débil, tendo em conta a força do ataque e a virulência das medidas levadas a cabo pelo governo. Ainda mais enigmático deve parecer este comportamento, se se tiver em conta que as pessoas não apoiam as políticas governamentais, não deixando de murmurar contra elas. Este murmúrio é um sinal de dupla leitura. Por um lado, ele representa uma desaprovação; por outro, é sinal de resignação. Esta prende-se com a ausência de expectativas. Ninguém acredita que exista uma alternativa ao que se passa, ninguém descortina uma política que seja capaz de substituir a actual e abra outros caminhos para percorrer e reconstruir as relações sociais e comunitárias. E as pessoas não descortinam essa política não porque sejam cegas, mas porque essa política não foi construída. E é esta impotência dos políticos de esquerda em oferecer uma saída - saída que as pessoas sintam como possível - que está a transformar o ruído do protesto em murmúrios de resignação e dor.

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