sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sinais de umas eleições

A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.

Uma mudança no eleitorado? António Costa (Lisboa) e Rui Moreira (Porto) ganharam largamente contra candidatos – Seara e Meneses – que prometiam este mundo e o outro. Os eleitorados escolheram quem prefere ter as contas em ordem. Esta é uma boa indicação que os eleitores do resto do país deveriam, no futuro, ter em consideração. No entanto, a proximidade entre eleitores e eleitos (o sentimento quase familiar) é um obstáculo às boas práticas municipais.

A vitória do PCP e o fim das ilusões. O PCP começou a perder certos eleitorados quando o dinheiro da Europa chegou, e muitos eleitores do partido foram ascendendo às classes médias. A um novo estatuto social correspondeu uma transferência de votos para o PS e para o PSD. Ao descobrirem, eles ou os filhos, devido à crise, a ilusão que é o estatuto da classe média, a memória arcaica funcionou e os votos estão de retorno ao PCP. Foram recebidos como o filho pródigo da parábola evangélica.

Alternâncias e cansaços. Socialmente menos significativas são a vitória do PS e a derrota do PSD. Trata-se de castigar o partido que está no governo e as maldades que perpetra por esse país fora. Isto apenas toca os fiéis das respectivas congregações. Os socialistas rejubilam e os sociais-democratas estão de crista caída. Foi apenas uma troika entre gente da mesma família e que, no fundo, quer a mesma coisa e está comprometida com o descalabro a que a irresponsabilidade de ambos levou o país. A abstenção e os votos brancos e nulos (54%) deram o sinal de cansaço com o jogo das alternâncias.

Um bloco à deriva. O BE mostrou a sua irrelevância autárquica. Isto deve-se à pouca penetração no país e ao facto de ser um partido de classe média, um estrato social politicamente volúvel. Não tem uma genética política e social como o PCP. Também lhe falta o talento de organizar e ocupar o terreno. Uma excepção foi Torres Novas. Listas e campanha abrangentes, inteligência e tacto na condução do processo. Um excelente resultado. Torres Novas dever-se-ia constituir num study case para as gentes do BE.

Torres Novas. Em relação a 2009, os socialistas perdem um vereador e baixam em mais de 9% a sua votação, mas Pedro Ferreira segura a maioria. Um resultado suficiente. O PSD recua quase 4%, apesar de estar na oposição e de o PS ter perdido muito eleitorado. Péssimo resultado. CDU/PCP sobe 3% e BE 4%. São resultados bastante bons. O CDS mantém-se como estava, isto é, sem peso local. Os brancos e nulos subiram mais de 5% e atingiram quase 9%, e a abstenção passou os 47%. Por aqui o cansaço é maior do que a nível nacional.

2 comentários:

  1. A generalidade do eleitorado da classe média nunca aceitou a opção pelo socialismo, porque não se via a si própria como uma vitima, ainda que menor e descartável, ao serviço dos capitalistas, mas sim como uns futuros "ricalhaços” a atravessar uma crise temporária.
    Agora caíram na "real" e a maioria não sabe bem como e o que fazer.

    Não conheço bem Torres Novas mas não fico surpreendido com a votação, basta conhecer alguns blogues para se perceber que existe uma franja de gente diferente...

    Bom fim-de-semana

    Abraço

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    1. Caíram na real? Duvido, a sério. A ilusão não diz respeito apenas como se antevê o futuro da conta bancária. Há toda a representação de si e esta é muito persistente. Com exclusão daqueles grupos sociais que eram, tradicionalmente, afectos ao PCP. O resto, pode oscilar aqui e ali, mas não compreendeu a sua situação no mundo. Recusa, inconscientemente, a perceber o que é.

      Quanto a Torres Novas, é tão volúvel como o resto do país. Há alturas que a direita ganha por cá outras é o PS. PCP e BE sobem e descem em conformidade com a maldade perpetrada pelos governos.

      Bom fim-de-semana,

      Abraço

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