Uma mudança no eleitorado? António
Costa (Lisboa) e Rui Moreira (Porto) ganharam largamente contra candidatos –
Seara e Meneses – que prometiam este mundo e o outro. Os eleitorados escolheram
quem prefere ter as contas em ordem. Esta é uma boa indicação que os eleitores
do resto do país deveriam, no futuro, ter em consideração. No entanto, a
proximidade entre eleitores e eleitos (o sentimento quase familiar) é um
obstáculo às boas práticas municipais.
A vitória do PCP e o fim das
ilusões. O PCP começou a perder certos eleitorados quando o dinheiro
da Europa chegou, e muitos eleitores do partido foram ascendendo às classes
médias. A um novo estatuto social correspondeu uma transferência de votos para
o PS e para o PSD. Ao descobrirem, eles ou os filhos, devido à crise, a ilusão
que é o estatuto da classe média, a memória arcaica funcionou e os votos estão
de retorno ao PCP. Foram recebidos como o filho pródigo da parábola evangélica.
Alternâncias e cansaços. Socialmente
menos significativas são a vitória do PS e a derrota do PSD. Trata-se de
castigar o partido que está no governo e as maldades que perpetra por esse país
fora. Isto apenas toca os fiéis das respectivas congregações. Os socialistas
rejubilam e os sociais-democratas estão de crista caída. Foi apenas uma troika entre gente da mesma família e
que, no fundo, quer a mesma coisa e está comprometida com o descalabro a que a
irresponsabilidade de ambos levou o país. A abstenção e os votos brancos e
nulos (54%) deram o sinal de cansaço com o jogo das alternâncias.
Um bloco à deriva. O
BE mostrou a sua irrelevância autárquica. Isto deve-se à pouca penetração no
país e ao facto de ser um partido de classe média, um estrato social
politicamente volúvel. Não tem uma genética política e social como o PCP.
Também lhe falta o talento de organizar e ocupar o terreno. Uma excepção foi
Torres Novas. Listas e campanha abrangentes, inteligência e tacto na condução
do processo. Um excelente resultado. Torres Novas dever-se-ia constituir num study case para as gentes do BE.
A generalidade do eleitorado da classe média nunca aceitou a opção pelo socialismo, porque não se via a si própria como uma vitima, ainda que menor e descartável, ao serviço dos capitalistas, mas sim como uns futuros "ricalhaços” a atravessar uma crise temporária.
ResponderEliminarAgora caíram na "real" e a maioria não sabe bem como e o que fazer.
Não conheço bem Torres Novas mas não fico surpreendido com a votação, basta conhecer alguns blogues para se perceber que existe uma franja de gente diferente...
Bom fim-de-semana
Abraço
Caíram na real? Duvido, a sério. A ilusão não diz respeito apenas como se antevê o futuro da conta bancária. Há toda a representação de si e esta é muito persistente. Com exclusão daqueles grupos sociais que eram, tradicionalmente, afectos ao PCP. O resto, pode oscilar aqui e ali, mas não compreendeu a sua situação no mundo. Recusa, inconscientemente, a perceber o que é.
EliminarQuanto a Torres Novas, é tão volúvel como o resto do país. Há alturas que a direita ganha por cá outras é o PS. PCP e BE sobem e descem em conformidade com a maldade perpetrada pelos governos.
Bom fim-de-semana,
Abraço