domingo, 13 de outubro de 2013

O tempo das evidências

Georgia O'keeffe - Black Cross, New Mexico (1929)

Está a chegar o tempo das evidências. Em França, a extrema-direita acaba de ganhar as eleições autárquicas na vila de Brignoles. A vila não tem relevo demográfico ou mesmo político, mas a vitória da Frente Nacional é relevante e confirma todos os indicadores que assinalam o seu crescimento eleitoral. Desde a Queda do Muro de Berlim que a política nos países europeus se tornou obscura e lançou uma enorme confusão no eleitorado. Sem capacidade para distinguir a esquerda e a direita governamentais, os eleitores estão, Europa fora, a encontrar na extrema-direita a evidência que procuram. Como se sabe, não há nada mais obscuro que a própria evidência. É tão luminosa que cega. No tempo das evidências crescem os cegos. Talvez não tarde muito que entreguem, para fugirem à actual desdita que os assola, a Europa a uma nova e mais terrível desdita.

4 comentários:

  1. Sim, o perigo é esse. No desnorte, as escolhas serão piores e piores. Ainda há pouco li sobre uma notícia de uma manif anti-imigração na ... Rússia. Mas por acaso os russos esquecerem-se de que têm emigrantes? Ou emigração é aceitável e imigração já não é? Isto explica a confusão que grassa, o virar de uns contra os outros, o uso de bodes expiatórios para explicar os falhanços... Enfim, entra-se em zona de perigo.

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    1. As questões étnicas são sempre de tratar com pinças, o que nem sempre acontece. Quando se importa mão-de-obra, importam-se pessoas e não autómatos. Ora as pessoas têm crenças e formas de existência diferenciadas e que, se não na primeira geração de emigrantes na dos filhos, vão entrar em colisão com os valores de acolhimento. Os filhos dos emigrantes, já fanceses de pleno direito, vão sentir-se humilhados e vão hipervalorizar as crenças culturais em vigor nos sítios de onde os pais são originários. Os resultados, por norma, são muito maus. É isso que se está a ver em França. A Front National apenas está a explorar um filão que já existe. Ela não o criou. Aproveita o racismo, o medo e o ressentimento dos franceses de "origem".

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  2. A chefe dele tem 24% de intenções de voto para as eleições europeias.
    A evidência é que a "velha" França parece ter a memória curta e parece cada vez mais ser uma "nova" analfabeta política.
    Abraço

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    1. Talvez o problema não seja ter a memória curta, mas já não haver memória, pois já não se viveu um certo período. Essa não memória e a erosão dos partidos tradicionais permitem o levantar de voo do extremismo. Também chegará cá. Os elementos para ele já estão todos disponíveis, só ainda não apareceu o chefe que tenha cara consumível pela massas.

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