Manuel Quejido - 24 Levitaciones (1972-3)
Interrogo-me como pode a senhora Merkel ter tanta capacidade para levitar sobre a realidade. Falo da realidade do Sul, não da sua. Descobriu agora que países como Portugal ou a Espanha têm licenciados a mais (ver aqui e aqui). Quando proferiu isto, a senhora que nos governa por interpostas pessoas, deveria estar em levitação. E levitava de tal maneira e ia já tão alto que confundiu os números. Na população entre os 15 e os 64 anos, a percentagem de licenciados na União Europeia é de 25,3% e na Alemanha - aquele país que se entregou nos braços da senhora Merkel - é de 25,1%. Ao ler a opinião da grande timoneira, imaginei logo que Portugal deveria ir a caminho dos 50% de licenciados, tudo gente a estudar à conta dos contribuintes alemães. Eis senão quando sou confrontado com a realidade.
O excesso dos nossos licenciados significa que para a mesma população (entre 15 e 64 anos) nós, pobres portugueses, temos 17,6% de licenciados. É o que dá a senhora Merkel dedicar-se a disciplinas místicas e esotéricas. Troca os números. Mas, dir-me-á compungido o leitor, a senhora Merkel não é dada a aventuras paranormais e nunca terá lido Santa Teresa de Ávila. E eu, perplexo, caio em mim e começo a pensar que a senhora Merkel acha que a gentes do Sul não têm direito a fazer cursos superiores. E se digo isto não é só porque os diligentes alemães têm uma percentagem de licenciados bastante superior aos preguiçosos dos portugueses. Digo-o porque a política europeia, inspirada pela senhora Merkel tal como a acção do Papa o é pelo Espírito Santo, está a conduzir muitos jovens portugueses para fora das universidades por falta de dinheiro (isso mesmo, pobreza das famílias e custos exorbitantes do ensino superior), enquanto a Alemanha achou por bem abolir as propinas nas suas universidades. Se isto não é levitação sobre a realidade daqueles povos feios, porcos e maus que habitam a península ibérica, é o quê?
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