J. G. Platzer - La venganza de Sansón
Talvez devesse falar da detenção de Sócrates e daquilo que se diz. Não
gosto – e é dizer pouco – do personagem e não vou especular sobre um assunto, o dos eventuais crimes, que não é do meu foro. Só espero que, se ele for inocente, a justiça o
reconheça e se penitencie do espectáculo que proporcionou. Se for culpado, que
o puna segundo a lei. Espero mesmo, em caso de culpa, que a justiça seja mais
misericordiosa do que Sócrates (com o aplauso de muitos que agora vitoriam a sua situação) o foi com mais de uma centena de milhares de professores, onde me incluo, a quem ele humilhou, maltratou,
prejudicou e usou como bode expiatório de uma situação social e económica fruto
dos devaneios, para não dizer outra coisa, dos políticos. Não canto vitória nem
abri uma garrafa de champanhe pela sua detenção, como não o fiz aquando da
recente condenação de Maria de Lurdes Rodrigues, sua cúmplice política no ataque aos professores. Em cada um de nós deve haver
um sentido de decoro para com a infelicidade alheia, mesmo se ela é fruto das
sua opções, dos seus delírios e dos seus eventuais crimes, mesmo se aquele a
quem a infelicidade tocou nos é repugnante. Não devemos
deixar que o mal e a humilhação que sentimos nos corroa a alma. Acredito que
todos os homens, na intimidade da sua consciência, sabem distinguir o bem e o
mal, mesmo quando mascaram este como se fosse um bem, e todos sabem que sentir
felicidade pela desgraça alheia é, eticamente, tão reprovável como provocar a
infelicidade dos outros. Foi isto que me foi ensinado e ainda não encontrei
razão alguma para alterar a crença nesse ensinamento. A justiça não é o lugar da vingança, nem deve servir de consolação subjectiva aos que clamam vingança.
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