sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Desafios gregos


A crise política grega desembocou na convocação de eleições para o próximo dia 25 de Janeiro. Aconteça o que acontecer, essas eleições vão ter repercussões na União Europeia e também em Portugal. Neste momento, há um jogo de aparências marcado pelo tom ameaçador exibido pela direita europeia e a esperança ansiosa da esquerda. Mas este é um jogo de aparências. Para além dele, coloca-se um conjunto de questões que convém sublinhar.

Em primeiro lugar, está em questão como os gregos irão reagir nas urnas. As sondagens têm indicado que o Syriza (um partido semelhante ao Bloco de Esquerda) poderá ganhar as eleições e formar governo. Na balança dos gregos há que verificar se a destruição (uma destruição absolutamente radical) da sua economia e da sua sociedade pelas políticas de austeridade da troika tem mais peso do que a chantagem e as ameaças da União Europeia e do Banco Central Europeu? Para os gregos, o que está em jogo é a coragem para encontrar uma outra política que não destrua ainda mais a sua vida.

Em segundo lugar, está em jogo a capacidade política do Syriza, não apenas a de ganhar as eleições mas a de conseguir governar sem produzir um desastre. Terá o Syriza (e com ele a esquerda radical) uma solução que consiga conciliar o seu programa e as políticas europeias? O Syriza é, como a generalidade da chamada esquerda radical, BE incluído, um partido social-democrata com um programa económico keynesiano. Não sonha com revoluções, nem ditaduras do proletariado, nem com outros devaneios. Não põe em causa nem a economia de mercado, nem a União Europeia, nem o Euro. Terá talento para encontrar uma nova via política?

Por fim, também a União Europeia, caso o Syriza ganhe, terá de provar alguma coisa. Terá de provar que sabe respeitar a vontade do eleitorado e que é uma verdadeira união de povos independentes e respeitadora plena da democracia. Terá de mostrar se tem flexibilidade suficiente para encontrar uma saída para a difícil relação entre a Grécia e as actuais políticas europeias, que o programa do Syriza possa trazer. O maior desafio que se coloca às instituições europeias, caso o Syriza ganhe, é a de perceber que têm ali uma oportunidade, e não uma ameaça, para saírem do atoleiro onde as suas políticas colocaram a Grécia, os outros países da Europa do Sul e a própria ideia de União Europeia.

Concluo com um prognóstico. O Syriza não ganhará as eleições, pois o medo falará mais alto. Sublinho, porém, que nunca acertei na chave do Euromilhões, nem do Totoloto ou, tão pouco, do Totobola.

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