A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
A crise política grega desembocou na convocação de eleições para o
próximo dia 25 de Janeiro. Aconteça o que acontecer, essas eleições vão ter
repercussões na União Europeia e também em Portugal. Neste momento, há um jogo
de aparências marcado pelo tom ameaçador exibido pela direita europeia e a
esperança ansiosa da esquerda. Mas este é um jogo de aparências. Para além
dele, coloca-se um conjunto de questões que convém sublinhar.
Em primeiro lugar, está em questão como os gregos irão reagir nas
urnas. As sondagens têm indicado que o Syriza (um partido semelhante ao Bloco
de Esquerda) poderá ganhar as eleições e formar governo. Na balança dos gregos
há que verificar se a destruição (uma destruição absolutamente radical) da sua
economia e da sua sociedade pelas políticas de austeridade da troika tem mais peso do que a chantagem
e as ameaças da União Europeia e do Banco Central Europeu? Para os gregos, o
que está em jogo é a coragem para encontrar uma outra política que não destrua
ainda mais a sua vida.
Em segundo lugar, está em jogo a capacidade política do Syriza, não
apenas a de ganhar as eleições mas a de conseguir governar sem produzir um
desastre. Terá o Syriza (e com ele a esquerda radical) uma solução que consiga
conciliar o seu programa e as políticas europeias? O Syriza é, como a
generalidade da chamada esquerda radical, BE incluído, um partido
social-democrata com um programa económico keynesiano. Não sonha com
revoluções, nem ditaduras do proletariado, nem com outros devaneios. Não põe em
causa nem a economia de mercado, nem a União Europeia, nem o Euro. Terá talento
para encontrar uma nova via política?
Por fim, também a União Europeia, caso o Syriza ganhe, terá de provar
alguma coisa. Terá de provar que sabe respeitar a vontade do eleitorado e que é
uma verdadeira união de povos independentes e respeitadora plena da democracia.
Terá de mostrar se tem flexibilidade suficiente para encontrar uma saída para a
difícil relação entre a Grécia e as actuais políticas europeias, que o programa
do Syriza possa trazer. O maior desafio que se coloca às instituições
europeias, caso o Syriza ganhe, é a de perceber que têm ali uma oportunidade, e
não uma ameaça, para saírem do atoleiro onde as suas políticas colocaram a
Grécia, os outros países da Europa do Sul e a própria ideia de União Europeia.
Concluo com um prognóstico. O Syriza não ganhará as eleições, pois o
medo falará mais alto. Sublinho, porém, que nunca acertei na chave do Euromilhões, nem do Totoloto ou, tão pouco, do Totobola.
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