A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Gostaria de terminar o ano com uma crónica de esperança. Para além da
crise que se eterniza, haverá sintomas de uma esperança no futuro?
Infelizmente, não. As sociedades modernas possuem o seu núcleo central de
desenvolvimento (e de esperança) no conhecimento científico. Portugal, durante
muito tempo, foi nessa área um país periférico. Nos últimos vinte anos, porém, sob
a direcção do ministro Mariano Gago, o país fez um esforço notável para se
aproximar daquilo que se fazia na Europa. À qualidade da decisão política
correspondeu um contínuo esforço das universidades e centros de investigação. O
reconhecimento da qualidade do trabalho científico em Portugal foi sendo
paulatino, mas consistente. Bolsas avultadas e prémios internacionais começaram
a ser notícia. A visão de Mariano Gago parecia adequada e tudo indicava que ela
deveria ser continuada e aprofundada, pois, nessa área, o país estava no bom
caminho.
Pura ilusão. Aquilo que tinha sido a grande obra dos governos
socialistas – governos medíocres noutros aspectos – parece incomodar os actuais
detentores do poder. Olhando para estes anos de consulado de Nuno Crato, um
observador imparcial será levado a concluir que, no campo da ciência, a
principal estratégia do actual governo foi a de encontrar um caminho para
destruir a obra edificada nos governos anteriores. E sempre que, nas sociedades
actuais, se quer destruir alguma coisa que incomoda, a melhor forma é criar um
sistema de avaliação abstruso e pouco claro. Nestes casos a avaliação não serve
para melhorar, mas para destruir. Foi o que aconteceu na ciência. O processo
liquidou metade dos centros de ciência existentes e destruiu uma parte
significativa da base científica nacional, aquela que tinha permitido criar uma
elite reconhecida internacionalmente.
O poder actual diz que apenas quer centros de excelência, como se isso
fosse possível. Para haver um núcleo de excelência é precisa uma ampla base
que, não sendo excelente no seu todo, gerará a elite através da sua dinâmica. Sem
essa base, não há qualquer possibilidade de excelência. Esta é a natureza das
coisas que o actual poder, no seu afã de destruição, quer ignorar. O que mais
choca é o espírito sectário que preside à nossa vida política. Aquilo que foi
bem feito por outros terá de ser destruído, como se Portugal tivesse começado
com o actual governo ou a política científica apenas pudesse sair da cabeça de
Nuno Crato. Com este tipo de mentalidade, valerá a pena falar de esperança? Um
bom 2015, apesar de tudo.
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