Oswaldo Guayasamín - A idade da ira (1965-67)
A internet com as suas redes sociais, os blogues e os jornais online, com as respectivas caixas de comentário, veio revelar um fenómeno que poderíamos denominar como ódio digital. Sob anonimato ou a coberto da liberdade de expressão, as pessoas descarregam a sua ira contra os que pensam de forma diferente, desobrigando-se não só das regras da boa argumentação como das da boa educação. Raramente se discute uma posição, se analisam os factos, se tenta perceber aquilo que está em questão. Poucas vezes se usa um argumento diferente do ad hominem, que tem a particularidade de ser falacioso. As caixas de comentários e as redes sociais são um mostruário de insultos, de mentiras, de perseguições, de acusações gratuitas e nunca fundadas. Este ódio digital parece fazer parte do que se poderia chamar a idade da ira. Frustradas, recalcadas, mal amadas, as pessoas encontram nos que possuem pontos de vista e convicções diferentes um bode expiatório para a vida pequena (e só muito raramente a vida não é pequena perante o desejo que incendeia cada um) que lhes coube em sorte. Estas explosões de irracionalidade digital podem ser um escape das tensões e dores acumuladas, mas não deixam de revelar um carácter e de ser um sintoma da pulsão mal disfarçada que existe nos portugueses para a censura dos que pensam de forma diferente, um ataque à liberdade em nome da liberdade. Uma doença, portanto.
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