George Inness - Twilight (1875)
A tomada das designações geográficas como símbolos introduz sempre uma matéria que, pelo seu fascínio, se dá à meditação. Tomemos o Ocidente como exemplo. Foi nele que emergiu a Iluminismo, foi nele que a luz da Razão se libertou dos constrangimentos do sentimento e da imaginação, até da memória. Raramente pensamos, contudo, que essa luz que tanto nos anima seja a luz do Sol que, no Ocidente, se põe, que seja uma luz crepuscular. Se olharmos para o mundo, para a pujança económica e política de uns ou para o sentimento religioso-político de outros, somos acometidos por essa sensação estranha de que a nossa luz perdeu o brilho, que se trata já e apenas de uma luz baça, crepuscular, de um crepúsculo que antecede a noite. A Razão vê a sua autonomia ameaçada por novos e antigos poderes, como se, com a noite que se aproxima, fossem trazidos de volta velhos feitiços e encantamentos ou surgissem novas quimeras. O terrível é que a luz crepuscular nunca tem o poder de retornar ao seu antigo esplendor. Entrega-se nos braços das trevas e, quando surge, como o crepúsculo da aurora e anuncia a força de um novo dia, não é do Ocidente que ela provém.
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