quinta-feira, 2 de abril de 2015

A banalidade em forma de acinte

Juan Botas - School (1989)

Por causa desta ideia da OCDE - a importância de aumentar a escolaridade dos portugueses - lembrei-me de que me tinha esquecido de comentar um artigo de Vasco Pulido Valente sobre a importância - do seu ponto de vista, a irrelevância - da educação para o desenvolvimento do país. O que é interessante no artigo de VPV é que ele é tão superficial na análise do problema como aqueles que ele denuncia. O que está em causa, para mim, não é o facto do artigo ser reaccionário. Isso é irrelevante. O que está em causa é a pura superficialidade com que a questão é abordada.

Para VPV o problema é posto da seguinte forma:  O desenvolvimento económico "não depende da educação e formação do povo. Pelo contrário, a educação e formação do povo dependem de um desenvolvimento económico regular e crescente". Basta levantar uma questão para perceber o sem sentido da posição de VPV: como é que numa economia, há muito ancorada em processos de produção que exigem racionalidade organizacional e técnica, a educação e a formação não são elementos centrais do desenvolvimento económico regular e crescente? Se não é verdade que a educação produza por si só o desenvolvimento económico, também não é verdade que este possa existir sem um contínuo investimento nos processos de instrução e formação globais. Determinar um a priori - a educação ou o desenvolvimento - é uma patetice sem sentido.

A posição de VPV, além de estruturalmente errada, pois ancorada numa visão abstracta, tem ainda a capacidade viciosa de esconder os verdadeiros problemas colocados pela educação e formação em Portugal. Esconde a forma como os diversos graus de ensino - desde o básico ao universitário - são pensados, como é que o desenho de currículos e percursos escolares estão desfasados da realidade, como é que interesses corporativos e de oportunismo político têm a capacidade de destruir muito dos efeitos positivos que a educação e a formação deveriam ter em Portugal. Esconde ainda a deficiente formação escolar e técnica dos próprios empresários e o papel que isso tem na nossa miséria. O pensamento de VPV sobre a educação não é diferente daqueles que, hoje em dia, acham que a educação é dar cursos de empreendedorismo. No fundo, VPV tornou-se um empreendedor de banalidades, que tenta ocultar através do acinte com que derrame na coluna do jornal. 

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