Le Pen filha e pai (Robert Pratta, Reuters, Expresso)
Uma família desunida. A Front National, agora que o partido se aproxima do poder, parece em guerra civil, uma guerra entre o pai Le Pen, o velho e extremista fundador, e a filha, actual líder e candidata a Presidente da República. Este conflito tem vários significados políticos que importa realçar. O primeiro, e mais importante, pode ser definido como o verdadeiro momento Bad Godesberg da Front National. Na ciência política, Bad Godesberg está ligada ao congresso do SPD alemão (o lugar onde se realizou), que terminou a 15 de Novembro de 1959, no qual os sociais democratas germânicos abandonam o marxismo e aceitam a economia de mercado. A partir desse momento entram no clube da governabilidade e evacuam todo e qualquer odor revolucionário, que ainda permanecesse no velho partido operário. A ruptura entre pai e filha Le Pen é um momento central na credibilização de Marine Le Pen, o seu momento Bad Godesberg. Abandona o odioso discurso xenófobo e para-fascista representado pela ideologia do pai e torna-se digerível na área do poder.
Há contudo uma diferença essencial entre estes dois momentos Bad Godesberg. Para o socialismo democrático alemão, o seu momento Bad Godesberg teve como função uma aceitação pelas elites sociais e económicas. O corte da senhora Le Pen com o pai visa uma maior penetração nas camadas populares, nomeadamente, mas não só, nas de esquerda. O partido nacionalista, devido ao passado direitista e racista, encontra ainda muitas resistências num país que, apesar de tudo, tem uma cultura democrática e civilizada. Este afastamento do pai, permite não só que a senhora Le Pen continue a penetrar no antigo eleitorado comunista, como no eleitorado do centro-esquerda e do centro-direita. O problema que esta nova configuração levanta é o possível choque com as elites económico-financeiras, hoje completamente internacionalistas e que têm na União Europeia a sua organização política regional. O nacionalismo - à direita ou à esquerda - é um obstáculo à ideia de livre mercado. O que se vai colocar a Marine Le Pen é se vai acomodar-se perante o liberalismo dominante ou se vai continuar a apostar em retirar a França da União Europeia e fechar as fronteiras. De passagem, sublinhe-se, que uma crise deste género em França não é a mesma coisa do que na Grécia.
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