sexta-feira, 3 de abril de 2015

Boa Páscoa

El Greco - Cristo Crucificado (1587-1596

A Páscoa, tanto a dos judeus como a dos cristãos, tem no seu núcleo central a ideia de libertação e a da emancipação. Libertação dos judeus do cativeiro, emancipação dos cristãos do terror da morte eterna. Se há temática que marcou os últimos séculos foi essa, a da libertação e a da emancipação. Mesmo os movimentos mais radicalmente anticristãos, como o iluminismo e o marxismo, só são compreensíveis na sua filiação directa (mesmo que os seus fundadores o tivessem negado) no cristianismo, nomeadamente nos acontecimentos da Páscoa.

Mas, ao trazer hoje uma imagem do Cristo crucificado, gostaria de lembrar um outro aspecto que o tempo foi apagando, e que certa revivescência pagã, na qual não nos importamos de encontrar filiação, não sabe ou não quer saber. O sacrifício do Cristo tem um elevado significado civilizacional. Ao fazer da morte na cruz do seu fundador o núcleo central de uma nova religião, o cristianismo veio abolir e tornar execráveis as práticas de sacrifícios humanos, que existiam por toda a parte. Para o cristianismo só há um sacrifício válido, o do filho de Deus, e toda a morte de homem, ou mesmo de animais, se tornou inaceitável.

É certo que os cristãos vivem a sua fé, quando a têm, centrados na promessa da ressurreição da carne, mas essa fé que se abre à controvérsia está assente num terreno civilizacional, o qual qualquer homem dotado de razão e boa vontade não pode diminuir a importância: o sacrifício humano é desagradável a Deus. Mesmo que o cristianismo só tivesse sido isto, já seria o bastante para o colocar como uma das forças mais poderosamente civilizadoras da humanidade e como um dos fundamentos de uma conduta racional entre os homens. Boa Páscoa. (averomundo, 2009/04/11)

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