El Greco - Cristo Crucificado (1587-1596
A Páscoa, tanto a dos judeus como a dos cristãos, tem no seu núcleo
central a ideia de libertação e a da emancipação. Libertação dos judeus do
cativeiro, emancipação dos cristãos do terror da morte eterna. Se há temática
que marcou os últimos séculos foi essa, a da libertação e a da emancipação.
Mesmo os movimentos mais radicalmente anticristãos, como o iluminismo e o
marxismo, só são compreensíveis na sua filiação directa (mesmo que os seus
fundadores o tivessem negado) no cristianismo, nomeadamente nos acontecimentos
da Páscoa.
Mas, ao trazer hoje uma imagem do Cristo crucificado, gostaria de
lembrar um outro aspecto que o tempo foi apagando, e que certa revivescência
pagã, na qual não nos importamos de encontrar filiação, não sabe ou não quer
saber. O sacrifício do Cristo tem um elevado significado civilizacional. Ao
fazer da morte na cruz do seu fundador o núcleo central de uma nova religião, o
cristianismo veio abolir e tornar execráveis as práticas de sacrifícios
humanos, que existiam por toda a parte. Para o cristianismo só há um sacrifício
válido, o do filho de Deus, e toda a morte de homem, ou mesmo de animais, se
tornou inaceitável.
É certo que os cristãos vivem a sua fé, quando a têm, centrados na
promessa da ressurreição da carne, mas essa fé que se abre à controvérsia está
assente num terreno civilizacional, o qual qualquer homem dotado de razão e boa
vontade não pode diminuir a importância: o sacrifício humano é desagradável a
Deus. Mesmo que o cristianismo só tivesse sido isto, já seria o bastante para o
colocar como uma das forças mais poderosamente civilizadoras da humanidade e
como um dos fundamentos de uma conduta racional entre os homens. Boa Páscoa. (averomundo, 2009/04/11)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.