Ed van der Elsken, Tokyo, 1984 |
- Não se aproxime.
- Mas…
- Já lhe disse não se aproxime de mim.
- Não estou contaminado.
- Não quero saber. Afasta-se, afaste-se.
- Também não sou radioactivo.
- Antes fosse.
- Isso seria terrível, não sabe que a radioactividade é…
- Não me interessa.
- Ao menos, deixe-me passar.
- Não. Afaste-se, volte para trás.
- Para trás?
- Sim, saia por onde entrou.
- Eu quero seguir na carruagem, comprei bilhete, tenho esse direito.
- Que a sua sombra não me toque, que a sua presença não me atormente a
viagem. Volte para trás. Não posso vê-lo, nem pensar que vai no mesmo comboio que
eu.
- Endoideceu?
- Se der mais um passo, grito.
- Nem me conhece, qual o motivo para tanta repugnância?
- Basta aquilo que vejo. Meteu conversa comigo.
- Não meti, foi você que começou.
- Pressenti aquilo que queria.
- É dada a pressentimentos?
- Cale-se, nem o posso ver.
- Que mal lhe fiz?
- Olhe para a sua camisa. Como é possível alguém usar uma camisa dessas e querer falar comigo? Volte para trás, depressa. Afaste-se.
De como o vestir nunca é uma coisa de somenos importância.
ResponderEliminarExcelente.
Um abraço
Nunca é. Muito obrigado.
EliminarAbraço