José de Almada Negreiros, sem título, 1919 |
O
lugar do concerto era numa sala muito antiga. A assistência vestia-se de forma
anacrónica e toda a gente tinha os olhos parados. Ao pisar o palco, ouvi uma
grande ovação, apesar dos espectadores não mexerem braços e mãos. A posição
hierática de quem ali estava recordava-me um tribunal composto por juízes
severos. No momento em que o recital ia começar, reparei que a guitarra não tinha
cordas. Vou disfarçar, pensei, e fiz os gestos como se o instrumento estivesse
completo. Nenhum som se ouviu. Olho o público e sinto-me devorado por aqueles
olhos mortos. Tento uma desculpa, mas emudecera. O silêncio era sepulcral.
Aterrorizado, corro dali para fora. Ao abrir os olhos, escuto ao longe o som de
uma guitarra. A manhã ia avançada.
Belissímo.
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Muito obrigado.
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