domingo, 18 de agosto de 2013

Primaveras e a Ilha dos Mortos

Arnold Böcklin - A ilha dos mortos (1880)

Talvez não fosse possível a sobrevivência dos regimes árabes que entraram em convulsão com a denominada Primavera Árabe. Mas nada justificou, ou justifica, o entusiasmo que essas transformações políticas geraram no mundo ocidental. O Ocidente, limitado por uma visão unilateral do mundo, estava, e continua, convencido que o único caminho para o mundo é a democracia liberal, de cariz individualista, que cresceu nos países anglo-saxónicos e na zona de influência do protestantismo. Este equívoco - o qual nem lhe permite perceber a natureza da Europa do Sul - torna possível todos os devaneios sobre a evolução do mundo muçulmano e cujos resultados trágicos, mais uma vez, se estão a constatar no Egipto, para não falar da guerra civil que tomou conta da Síria. Estas Primaveras não são estações de esperança, mas antes a abertura de mais um canal que liga o mundo à nunca saciada Ilha dos Mortos.

4 comentários:

  1. A Primavera passou a ser a "estação dos mortos (pelo menos as árabes) e o que é grave é que quem decide quem são as actuais e as próximas vítimas, sejam elas islâmicas ou laicas, são sempre os mesmos.
    Mais um "déjà vu"...

    Abraço (com cedilha)

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  2. Uma irreprimível projecção da ideia de libertação, do próprio conceito de liberdade como um bem absoluto.
    Ou então a transformação da revolução em produto através de marketing que pretende associar liberdade a consumo, e se por trás estiverem os de sempre, os mercados?
    Por estes dias reler Said é uma boa aposta.

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