A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Estamos próximos das eleições autárquicas e o país continua a assistir
ao imbróglio dos candidatos que, já eleitos por três vezes, se apresentam à
eleição noutro município. Ninguém parece saber se estas candidaturas são legais
ou ilegais. Não são, porém, estas tortuosidades inerentes aos processos
legislativo e judicial que me interessam, mas a substância da limitação dos
mandatos. Esta limitação é, para as justiça das instituições e para o saudável
funcionamento da democracia, boa ou má?
A limitação de mandatos é boa e deveria ser mais radical. Mais radical
porque deveria apenas permitir o exercício de um cargo político por dois
mandatos, sem possibilidade de mais alguma vez o eleito o vir a ocupar, e
sublinhando no caso das autarquias a clara proibição de se candidatar a outra
autarquia do mesmo nível, ainda que em concelho diferente.
Por que motivo esta drástica limitação é boa para a democracia e torna
as instituições mais justas ou, no pior dos casos, menos injustas? Não será a
limitação de mandatos um desaproveitamento da experiência política acumulada?
Comecemos por esta questão. Aquilo que é importante evitar é que a política se
torne uma profissão. Numa profissão, o profissional segue o interesse próprio e
trabalha para si mesmo. O exercício de um cargo político visa o bem comum e
deve ser exercido de forma imparcial, mesmo que isso exija o sacrifício do
interesse próprio. Servir uma população, sacrificando o seu interesse, durante
oito anos, é já um grande contributo à comunidade e não se deve exigir mais.
Mais do que isso, por outro lado, pode conduzir o político a ver a sua função
como uma profissão e a perder de vista o fim para que foi eleito.
O poder político, pela sua natureza, tem uma capacidade enorme de
penetrar na vida das comunidades e de criar longas teias de interesses pessoais
e de família (família biológica, social, política, económica,
desportiva, etc.), teias essas que vão, sem se dar por isso, enviesando o
sentido de imparcialidade e de justiça. Uma longa presença das mesmas pessoas
nos mesmos cargos tem tendência a tornar toda a comunidade dependente dessas
pessoas, contribuindo assim para a erosão da democracia, para a injustiça das
instituições e para a anemia da sociedade civil, pois tudo depende de uma
pessoa ou grupo de pessoas que se perpetuam no poder. A drástica limitação de
mandatos é, deste modo, um dos contributos mais importantes que se pode dar
para fortalecer as instituições políticas e para libertar a sociedade civil da
tutela dos actores políticos.
Exprimento algumas dúvidas sobre a questão, já que, se por um lado não aprecio os dinossauros da política , por outro prefiro um político antigo mas honesto e competente, do que um político "novo" aventureiro e oportunista.
ResponderEliminarUm abraço
Sim, isso é verdade, mas o poder é uma coisa terrível e a sua manutenção, muitas vezes, dá a sensação de impunidade ao incumbente.
EliminarAbraço
Peço desculpa pelo lapso ortográfico,mas escrever num tablet e com a net móvel a falhar, é uma aventura dos diabos, para mim que já sou pouco competente com o teclado.
ResponderEliminarAbraço
Só agora, depois de o dizer, é que reparei. Acho que nós olhamos para a "forma" da palavra e lemos o que se pretende, nem se dá pelos lapsos. No tablet, para mim, o pior não é o teclado virtual, mas a internet móvel, quando não tenho a outra, embora a escrita seja mais difícil do que no teclado real.
EliminarAbraço