sábado, 31 de agosto de 2013

A transfiguração da pátria (5) Uma ameaça de sombra

Juan Genovés Candel - Ameaça (1969)

O mar chega-nos em ondas de algas e pústulas,
sacos de plástico abandonados, cadáveres azuis
de gaivotas traídas pelo fogo da tarde.
Sentado, olho o horizonte , a vertigem do ódio,
cada palavra que o vento traz e ressoa na rocha.

Um lençol de sangue brilha sobre o mar em putrefacção,
zunem traineiras abandonadas pela areia,
e os veraneantes olham da mansa estupidez dos dias.
A cegueira invade a terra e desenha um mapa de
desperdícios, fuligem, uma paisagem ocre-vermelho,

velha fantasia de um deus esquartejado e traído.
Soletro no silêncio o nome perdido desta pátria
e, ao longe, vejo sombras  que crescem, uma ameaça,
restos de embarcações esquecidas. Entre os náufragos,
ergue-se flamejante a sombria sombra da minha sombra.

4 comentários:

  1. Não foi para isto que Camões enfrentou o mar e salvou os Lusíadas.
    Abraço

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    Respostas
    1. Lá isso não deve ter sido, mas os poderes nunca estiveram lá muito interessados na palavra dos poetas.

      Abraço

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