sexta-feira, 30 de maio de 2014

Caos e ruína?


Portugal, alguns números para começar. Em 2009, a direita (PSD+CDS) valia 40,1%, agora vale 27,7%. Arco da governação (PSD+CDS+PS) valia 66,7%, agora 59,2%. Esquerda não governamental (CDU+BE) valia 21,4%, agora 17,24%. Esquerda total (PS+CDU+BE) valia 48%, agora 48,7%. É difícil, para além de Marinho e Pinto, encontrar claros vencedores das eleições. Derrotados há. O maior é o Bloco de Esquerda, que navega num mar de equívocos e prepara-se para ficar reduzido aos pequenos grupos que lhe deram origem. A direita também saiu derrotada, mas não tanto como se pensa. Tem ainda hipóteses de vir a ganhar as próximas eleições. Depende daquilo que se passar no PS. Seguro ganhou, mas nunca uma vitória teve tanto sabor a derrota. A esquerda não governamental perdeu claramente, embora o PCP tenha subido a votação. O PCP é um vencedor não pelo aumento do número de votos ou da percentagem (sobe apenas 2%, depois de três anos de malfeitorias governamentais), mas porque o arco da governação ficou abaixo dos 60%. Esta foi a grande vitória do PCP, que também ganhou no campeonato com o BE. Falta compreender o que significa a votação em Marinho e Pinto. A situação, porém, parece caótica.

Na Europa, a direita liberal ganhou seguida dos socialistas. O dado relevante, porém, é o crescimento da extrema-direita. Nacionalistas, fascistas e nazis entraram em força para o parlamento europeu. Há um redesenhar do conflito político. Até aqui, o que estava em jogo era um conflito entre os que defendiam políticas liberais (a direita e os socialistas) e uma esquerda enfraquecida e nostálgica dos tempos onde o Estado social tinha um papel central no debate e conflito políticos. Agora o debate vai ser recentrado em torno do conflito entre liberalismo e nacionalismo, entre os que querem matar o Estado-Nação e os que se arvoram como os seus últimos defensores, isto é, a extrema-direita. Se a situação política portuguesa parece caótica, a europeia traz com ela a visão da ruína. A continuação das políticas liberais apenas conduzirá ao aumento da popularidade da extrema-direita antiliberal. Por outro lado, o retorno a uma situação anterior, onde o Estado social servia como cimento político e dique contra os extremismos, parece completamente impossível. A Europa está completamente enredada na armadilha que ela própria montou. Contrariamente ao que muita gente pensa, há coisas que se tornam inevitáveis. Provavelmente, a morte da União Europeia e uma nova época de nacionalismos Europa fora pode ser uma delas. Tempos negros esperam-nos.

2 comentários:

  1. Uma ressaca eleitoral à medida do que somos. Confusa.
    Desde a vitória de "perro" (Soares dixit, sem esclarecer se estava a referir-se ao PP de Espanha...) à derrota estrondosa, rapidamente camuflada, da direita, tudo o mais era previsível, com excepção de M e P.
    Até os golpes de arma branca, os que já aconteceram e os que aí vêm, não me merecem grandes comentários, apenas a apreensão do costume.
    Na Europa a situação será preocupante mas, apesar de tudo há muito ruído, passada a primeira reacção, a poeira começa a assentar.
    Sou um bem intencionado e ingénuo (?) e acredito que os tempos que a esperam serão (já são) cinzentos mas não negros. Os nacionalismos, muito diferentes entre si, podem ser uma boa resposta para algumas incompatibilidades históricas crónicas e atenuar tensões.

    Abraço

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    1. A derrota da direita é estrondosa, mas menos do que pode parecer. Julgo que a direita ainda pode ganhar as eleições de 2015 e esta ideia saiu reforçada destas eleições. Quanto à Europa, não sei. É um facto que as direitas radicais eleitas não são todas iguais. É verdade que a defesa do Estado-Nação pode ter virtualidades, mas partilho do sentimento do Pacheco Pereira no Público de hoje: ninguém aprendeu nada.

      Abraço

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