A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Domingo haverá eleições europeias. Os candidatos desesperam na solidão
a que foram abandonados e os eleitores sorriem com condescendência de uma
campanha sem tino nem relevo. Por um acaso, tenho estado a ler um romance que
merece leitura e meditação de todos, pois ajuda-nos a compreender a natureza do
poder, de qualquer poder. Trata-se de Wolf
Hall (assim, na tradução portuguesa) de Hilary Mantel. É uma obra de 2009, muito
premiada, e que se inscreve no género do romance histórico. A intriga passa-se
no tempo de Henrique VIII, de Inglaterra, e tem como personagem central Thomas
Cromwell. O que merece meditação não será tanto o talento de homens como
Cromwell, Wolsey ou More, mas o arbítrio do Rei, um arbítrio quase sem
controlo. Ali observamos o poder nu e na sua verdade, na forma como se pode
abater sobre qualquer um e suprimi-lo.
Dirá o leitor que estamos já muito longe do século XVI, que os
governantes de hoje não dispõem do arbítrio dos reis absolutos, que vivemos em
tempos menos bárbaros e que, pelo menos na Europa, já não se aprecia o
espectáculo de ver cabeças a rolar no cadafalso. Será verdade, mas apenas uma
verdade parcial. Os tempos estarão mais civilizados, mas a essência do poder
não se alterou, nem se alteraram os desejos e anseios dos homens que ocupam
esse poder. Não mandam matar, saem do poder se são derrotados nas eleições,
parecem pessoas cordatas. Isso acontece, todavia, porque a consciência dos
cidadãos cresceu e foi limitando a acção dos governantes. Contudo – e Portugal é
um exemplo muito claro disso – seja qual for a área onde tenham liberdade, os detentores
do poder não hesitam em impor a sua vontade e os seus interesses, mesmo que
isso implique o mal para muita gente.
Foi porque nós cidadãos não prestámos atenção a esta liberdade dos
governantes e não a limitámos pela lei que estamos na terrível situação que é a
nossa. A solução não é voltar as costas à política e fazer de conta que as
eleições nada têm a ver connosco. Isso apenas reforça o poder arbitrário das
elites políticas e diminui a capacidade dos cidadãos em controlar a acção dos
agentes políticos. Devemos votar, devemos exigir um maior limite à acção dos
governos e uma maior transparência na prestação de contas. O problema de
Portugal não está no tamanho do Estado, mas no excessivo poder que os
governantes possuem. Chegou o tempo em que os eleitores não podem ser ingénuos,
ora votando no partido do coração (como se fosse um clube de futebol), ora
desistindo de ir votar. Devemos usar o voto como uma arma para limitar aqueles
que detêm o poder, sejam eles quem forem.
Os candidatos, os que são eleitos e os que não, desesperam. Os eleitores, os que votam e os que não, queixam-se. O poder, o que manda e o que não, segue.
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Apesar de tudo eu vou votar, como sempre fiz.
Bom fim-de-semana
Um abraço
O poder segue emesmo o pequeno gesto de ir ou não votar tem consequências.
EliminarBom fim-de-semana
Abraço