Ángel Mateo Charris - O emigrante (1999)
Na Europa aproximam-se tempos sombrios. Nazis na Ucrânia com o apoio das potências ocidentais, perseguições a judeus, crescimento, em alguns países do antigo bloco de leste, das forças neo-nazis. Em França, Inglaterra e Holanda espera-se forte votação em partidos de extrema-direita. Haverá, noutros lugares, também fortes votações em partidos nacionalistas. Mesmo na Alemanha a perseguição ao emigrante desempregado parece estar por um fio (aqui). Podemos sempre pensar que a livre circulação de pessoas é uma utopia, e é essa utopia que está a ser desmantelada pela realidade. Talvez seja assim, mas isso apenas serve para mascarar a causa real que está a conduzir a Europa de volta aos seus tempos mais negros. A liberalização da economia mundial destruiu o modus vivendi dos europeus, destruiu grande parte da sua indústria e levou com ela os empregos, e trouxe a proletarização das classes médias. Foram as políticas ultra-liberais impulsionadas por Thatcher e Reagan, e depois seguidas pela direita e pela esquerda governamentais, que criaram as condições para que estes fenómenos se desenvolvessem. Se essas políticas não forem travadas, podemos esperar o pior. Quem estudou alguma coisa sobre a lógica sacrificial percebe, de imediato, que nestas circunstâncias os estrangeiros vão servir como bode expiatório. Os emigrantes precisam de se cuidar e de ter quem deles cuide. Mas a perseguição ao emigrante será apenas o início.
Na primeira noite, eles aproximam-se e colhem uma flor de nosso jardim.
ResponderEliminarE não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que uma dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua, e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
(Eduardo Alves da Costa)
Abraço
A condescendência acaba sempre por se pagar muito cara.
EliminarAbraço