quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Filhos de Hiroshima


O século XX foi fértil em acontecimentos decisivos. Por exemplo, a ida do homem à Lua como abertura da possibilidade da espécie humana se extra-territorializar. Hiroshima, porém, é o mais decisivo de todos os acontecimentos do século XX. Em Hiroshima, a humanidade provou a si mesma que tem o poder para se auto-destruir. O significado do acontecimento ultrapassa largamente a desmedida dor daqueles que sofreram os efeitos da bomba. O terrível espectáculo trouxe consigo uma nova e perturbante certeza. A sobrevivência da nossa espécie deixou de estar dependente apenas do instinto e da capacidade de adaptação ao meio. Depende, a partir desse dia memorável, horrivelmente memorável, da gestão racional dos nosso impulsos auto-destrutivos. A Guerra Fria foi já uma inquietante aplicação dessa gestão racional do negativo que existe em nós. Por muito que queiramos obscurecer o facto, a verdade é que continuamos a viver sobre esse registo. A sobrevivência da espécie humana depende da gestão racional do seu poder destrutivo, seja o atómico seja outro qualquer. Hiroshima é o símbolo de uma nova era da humanidade. Somos todos filhos de Hiroshima.

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