Thomas Merton
Esperar é arriscar ser decepcionado.
Decidam-se a correr esse risco.
Um escritor de tal modo prudente que nunca
escreve nada de criticável, nunca escreverá nada de lisível. Se desejam ajudar
os outros, decidam-se a escrever coisas que certos condenarão.
Se não sabem duvidar, não podem ser homens de
fé. Não podem ser homens de Deus se não são capazes de contestar o valor de um
preconceito, seja um preconceito religioso. A fé não é uma aceitação cega e sem
reserva, um juízo de facto. É uma decisão, um juízo aceite deliberadamente e
inteiramente, à luz de uma verdade que não pode ser provada, e não a simples
aceitação de uma decisão tomada por outrem.
O poeta entra em si mesmo para criar. O
contemplativo entra em Deus para ser criado. [Thomas
Merton, Semences de Contemplation]
Estes pequenos textos interessam-me por dois motivos. Por um lado,
pela fina intuição do acto literário que este monge trapista possuía. Em Semences de Contemplation (New Seeds of Contemplation, no original)
há um conjunto relativamente largo de reflexões sobre o acto poético, a
criatividade e a radical singularidade que deve ter o poeta, a qual é posta em
paralelo com a radical singularidade que deve possuir o monge.
Por outro, os textos de Merton – que leio há longos anos – abrem
perspectivas de diálogo com o mundo moderno que não se encontram em muitos
textos e tomadas de posição da Igreja Católica. Quando Merton diz que quem não
sabe duvidar não pode ser um homem de fé, abre o caminho para o diálogo com a
tradição da modernidade inaugurada por diferentes formas de cepticismo. Mas,
fundamentalmente, abre as portas à conversação com um mundo em que a
indiferença se traveste de dúvida. O que Merton mostra é que o cristianismo
católico tem recursos suficientes para falar com o mundo actual, mesmo nas
sociedades pós-modernas e hedonistas como são as nossas. Tem lhe
faltado, porventura, a inteligência ou a vontade. (averomundo, 2009/04/14)
Nota: o texto é de 2009 e relativamente ao diálogo da Igreja Católica com a
sociedade contemporânea alguma coisa mudou de então para cá. Esse diálogo precisa de ser intensificado e é fundamental para a Europa, num contexto em que muitos dos seus valores são abertamente contestados e postos de lado, inclusive pelas elites políticas e económicas europeias.
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