(imagem daqui)
A ideia popular, muito corrente nos dias de hoje, de que todos os
políticos são iguais é falsa. Contudo, como a generalidade das ideias falsas,
ela contém um fundo de verdade. É falso que todos os políticos sejam corruptos.
É falso que todos os políticos sejam moralmente abjectos. É falso que todos os
políticos sejam compulsivamente mentirosos. Então, perguntará o leitor, qual é
fundo de verdade que existe na ideia de que todos eles são iguais? A resposta é
menos misteriosa do que pode parecer: todos eles, como ensinou há muito
Maquiavel, se movem pela conquista e manutenção do poder. Dois exemplos, mas
que poderíamos universalizar sem medo de cometer a falácia da generalização
precipitada.
Comecemos por um drama familiar. A Front National, o partido da
direita radical francesa, expulsou
ontem, 20 de Agosto, o seu fundador, Jean-Marie Le Pen. As motivações
invocadas são irrelevantes. A única razão efectiva é que o velho Le Pen se
tornou incómodo para a actual líder da organização. Com a actual liderança, a
Front National aspira a ser mais do que um partido de contestação, aspira à
vitória eleitoral e ao exercício do poder. O que pode parecer estranho é que a
líder é Marine Le Pen, a filha do próprio Jean-Marie. Quando se trata de
política o que conta é o poder. Os próprios laços familiares são um pormenor
que será posto de lado se ameaçarem o único objectivo da acção dos políticos.
Passemos agora a uma tragédia grega. Também ontem, 20 de Agosto, o
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, demitiu-se
do cargo para provocar eleições e ter oportunidade para consolidar o seu
poder. Desde que assumiu funções, Alexis Tsipras, com surpreendente habilidade
política, já disse e desdisse o seu programa eleitoral, já assinou acordos em
que diz não acreditar, já votou ao lado da direita e contra os seus camaradas
de partido. Assim como os laços familiares, também os laços ideológicos são
insuficientes para conduzir a uma renúncia ao poder. Tsipras, que tem fortes
possibilidades de ser reeleito, fez aquilo que, há muitos anos, o dr. Soares
fez em Portugal: meteu o programa na gaveta.
Estes comportamentos não são especialmente censuráveis, desde que nós,
cidadãos, não tenhamos ilusões sobre o que é a política. Se acharmos que
através da política se vai realizar uma ordem moral do mundo superior (isto é,
se julgarmos que através da política se realizarão os nossos desejos, sonhos e
fantasias), então seremos continuamente decepcionados, e estaremos, sempre, a
ver traições e traidores a toda a hora e em todo o lado. Se olharmos para
aquilo que é efectivamente a política – a luta pela conquista e manutenção do
poder – então tudo se torna compreensível. E são os próprios cidadãos, que
vituperam os políticos pelas suas acrobacias, que as reforçam, pois não há ninguém
mais desprezível para o cidadão do que o político derrotado, o político destituído
de poder.
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