Ernst Barlach - Prophet Writing (1919)
Cantor da Personalidade, esboçando o que está por vir,
Eu projecto a história do futuro.
(Walt Whitman, "A Um Historiador", in Folhas de Erva)
Se para a poesia já me parece completamente destituída de interesse a ambição profética (Eu projecto a história do futuro), então para a política ela é completamente descabida. Mas isso é o que eu penso e não os políticos. A tentação profética de António Costa ganha corpo fundada nos novos dispositivos proféticos. Nada de sonhos, visões e comunicações de anjos. Agora a profecia utiliza cenários macro-económicos, projecções e simulações (ver aqui ou aqui). A tentação profética não é uma especial prerrogativa do actual líder dos socialistas. Candidatos de hoje e de ontem ao poder, de múltiplas e variadas colorações, nunca deixam de exercer o dom da profecia. Parece que as eleições são sempre um momento propício para a descoberta deste tipo de vocação, a qual, e tanto quanto me lembro, o futuro que depois chegou nunca teve a amabilidade de confirmar.
Em tudo isto há, no entanto, um significativo equívoco. O profeta antigo não era, por norma, detentor do poder político ou candidato a esse mesmo poder eu sei que o caso do Islão é diferente). Muitas vezes os profetas tomavam a voz para pôr na ordem, além do povo tresmalhado, os seus dirigentes. A profecia não era um instrumento de poder mas uma forma de limitação desse mesmo poder. Não deixa de ser surpreendente a actual apropriação da função profética pelos políticos (e os economistas, é preciso não esquecer estas personagens chaves das novas teologias). Nos nossos tempos, o exercício do dom da profecia não serve para limitar, através da ameaça de um fulminante castigo divino, as loucura do poder. Tornou-se, pelo contrário, uma arma para a conquista e a manutenção do poder, de um poder que tem a contínua particularidade de nos fulminar. Até 4 de Outubro, não faltarão profetas por esse país fora.
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