A minha crónica quinzenal no Jornal Torrejano.
As férias de Verão – ainda fará sentido falar assim? – estão a acabar.
Setembro devolver-nos-á, aos que estamos de férias, ao mundo profano dos
negócios quotidianos e preparar-nos-á para as eleições de 4 de Outubro. O que
pode espantar, na actual situação política, é a impotência da esquerda para
responder à coligação governamental. Essa impotência é tanto mais significativa
quanto o próprio país tem uma visão negativa da acção – uma acção altamente
destrutiva, diga-se – dos actuais detentores do poder. Vale a pena olhar para
esta falta de capacidade, para esta impotência.
Comecemos pela clara limitação da área política que vai do BE ao PCP.
Valerá, neste momento, 15% do eleitorado. Talvez um pouco mais, mas não muito.
Mesmo que, por milagre, crescesse para 20% isso seria pouco significativo. Para
além das limitações tradicionais (um eleitorado historicamente pouco sensível
aos projectos políticos destes partidos), há, contemporaneamente, três
experiências históricas que funcionam contra esta esquerda. Em primeiro lugar,
o desvario da Venezuela. Em segundo, o trágico destino do lulismo no Brasil.
Por fim, a rendição de Tsipras na Grécia. Três experiências de alternativas ao
liberalismo dominante desfeitas em cacos.
Quanto aos socialistas, o problema parece ainda mais delicado. Com a
substituição de Seguro por Costa, parecia possível uma vitória estrondosa. Hoje
em dia mesmo uma vitória medíocre parece discutível. Por outro lado, as
governações da esquerda democrática na União Europeia – Matteo Renzi, em
Itália, e François Hollande, em França – parecem tudo menos inspiradoras.
Também o fantasma insistente de José Sócrates não ajuda os socialistas. O
problema, contudo, é outro. Os socialistas europeus assinaram tudo o que a
direita europeia pôs diante deles, eliminaram a tradição social-democrata, que
era a sua, e, hoje em dia, o seu programa – com excepção de um ou outro pormenor
– é igual ao da direita, isto é, não existe esquerda social-democrática na
Europa.
Em resumo, à esquerda resta um programa (o do PCP e do BE) que pouca
gente quer e outro que é quase igual ao da direita. Esta situação arrasta-se há
anos e não parece ter solução à vista. Entre a fé numa apocalíptica implosão do
sistema e a pura capitulação perante o mesmo sistema, as esquerdas arrastam-se
sem encontrar um rumo que, nas actuais circunstâncias globais, lhes permita
defender os valores centrais que são os seus (os da liberdade, os da igualdade
e os da comunidade). As próximas eleições serão, tudo o leva a crer, para as
esquerdas nacionais o espelho dessa pantanosa melancolia.
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