Oscar Dominguez - Apocalipsis (1956)
Segundo um grupo muito respeitável de físicos, o Relógio do Apocalipse adiantou meio minuto (ver aqui). Estamos, segundo esses cientistas, a dois minutos e meio do fim do mundo, coisa que já não sucedia desde 1953. Não pretendo discutir a pertinência desta metáfora sobre os perigos que a espécie humana, por sua própria iniciativa, corre de desaparecer. O que é significativo mesmo é a existência da metáfora e ainda por cima como criação de gente tão treinada no pensamento crítico e pouco dada a devaneios metafísicos (eu sei, eu sei, que a física de hoje em dia mais parece uma metafísica, mas não o é). Se esta iniciativa pertencesse a um clube de teólogos fascinados pela escatologia, geraria apenas um encolher de ombros e seria vista como uma ociosa especulação sobre a doutrina das últimas coisas. O facto de serem físicos os responsáveis por este medidor do tempo que nos afasta ou aproxima do fim do mundo é sintomático da situação em que se vive. A especulação em torno do fim do mundo é muito antiga. No entanto, o século XX trouxe uma novidade. O fim do mundo a vir já não seria a obra de Deus, mas do próprio homem. Dito de outra maneira, o fim do mundo foi laicizado e transferido do âmbito da teologia para o da política, da ciência e da tecnologia. O resultado desta laicização, bem como da transferência de âmbito, é torná-lo muito mais próximo e, na verdade, muito mais realizável. Tem ainda uma outra consequência. Foi transferido da omnisciência divina para a insensatez humana. E esta parece não parar de crescer. Talvez não fosse má ideia devolver a Deus a prerrogativa de acabar com o mundo.
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