Pat Steir - Abstraction, Belief, Desire (1981)
O artigo do Público sobre dois filmes - um relativo à vida de Mário Cesariny de Vasconcelos e outro à de Cruzeiro Seixas (ler aqui) - refere um sonho recorrente deste último. É um sonho em que tenta desculpar-se perante o pai e acrescenta que "não foi o filho que este desejava". Este confronto do indivíduo com o fantasma do desejo do pai tem o condão, aliás há muito sublinhado pela psicanálise, de tornar patente os limites da racionalidade dos indivíduos e da sua autonomia. A crença liberal de que nós somos indivíduos que agem livre e racionalmente pressupõe a total transparência, perante a nossa mente, dos actos e das decisões que reputamos como nossos. Na verdade, o indivíduo absolutamente livre e racional é uma ficção. A nossa racionalidade não é uma pura luz. Ela é habitada por sombras e fantasmas, como se aprende com Cruzeiro Seixas, os quais limitam a liberdade e, muitas vezes, subjugam o indivíduo a necessidades que não controla. Isto não serve para afirmar que o homem é destituído de racionalidade e de livre-arbítrio. Serve apenas para limitar as nossas ilusões narcísicas, ilusões perigosas, as quais sustentam crenças que, muitas vezes, nos tornam incapazes de perceber o outro e de agir sem qualquer resquício de piedade e respeito.
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