O debate entre os socialistas Manuel Valls e Benoît Hamon, com vista à nomeação do candidato presidencial do PS francês, teve várias virtudes. A mais interessante é a proposta de Hamon de um rendimento universal de 750 euros, embora concretizado de forma faseada, começando com um aumento do rendimento de solidariedade e um "rendimento de vida" para os jovens. O interesse da proposta não está no facto de ela ser algo a realizar. A hipótese de um socialista chegar à presidência é, neste momento, tendencialmente nula. O interesse reside em ela ser um sintoma. De quê? Das nossas sociedades não saberem o que hão-de fazer com as pessoas.
As governações deixaram há muito de serem orientadas para as comunidades e são voltadas para os mercados. Esta orientação assenta na crença - uma crença meramente ideológica - que os mercados integrarão as pessoas de forma justa e adequada aos respectivos perfis. O problema é que há demasiadas pessoas que os mercados não querem, mesmo se esses mercados - isto é, os seus agentes - não se importem de fazer trabalhar as outras 12 horas por dia. As pessoas são inadequadas ou porque as suas competências se tornaram obsoletas ou porque nunca adquiriram as competências desejadas. As pessoas estão a mais e a proposta de Hamon apenas sublinha isso. A vitória de Trump nos EUA teve muito a ver com o problema das pessoas que se sentem a mais, que sentem não ter lugar. Iremos ver o que os franceses terão a dizer, se escolherão um programa liberal ou se, copiarão os americanos, e escolherão um programa proteccionista e nacionalista.
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