André Louis Derain - La comédie Italienne
Começamos o ano com um novo atentado, mais uma vez na
Turquia. Este atentado simboliza a desordem geral em que o mundo mergulhou. No
meio deste caos está a emergir uma estranha aliança entre o futuro presidente
dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Esta aliança é
estranha não pelos episódios rocambolescos da hipotética envolvência dos russos
na eleição americana. A estranheza reside na nostalgia que a parece suportar,
uma espécie de saudade dos tempos em que as duas superpotências, EUA e URSS,
apesar da inimizade ideológica, asseguravam uma ordem geopolítica universal.
Desaparecida a motivação ideológica e tendo em conta o
pandemónio que alastra mundo fora, abriu-se uma janela de oportunidade para uma
cooperação entre russos e americanos para pôr a aldeia global de novo em ordem.
Os sinais indicam ser esse o pensamento tanto de Trump como de Putin. Voltar a
dividir o mundo em esferas de influência e deixar que cada uma das potências
ponha a sua esfera em ordem. Estamos a assistir à aplicação da doutrina, ainda
que de forma unilateral, na Síria. Poderá a história repetir-se?
Basta observar dois factos para perceber que este desiderato
pode não passar de um devaneio. Em primeiro lugar, a China de 2017 não é bem a
China de 1990. A potência asiática – por maior que isso desgoste a Donald Trump
– é decisiva no contexto global. A divisão do mundo em esferas de influência
terá de contar sempre com os chineses, cujos interesses não se confundem nem
com os dos americanos nem com os dos russos. Em segundo lugar, o Islão – nas suas
diversas encarnações – tornou-se um dos jogadores fundamentais da política
mundial, coisa que estava longe de acontecer no tempo em que EUA e URSS
pastoreavam os respectivos rebanhos com mão de ferro.
Mais uma vez, voltamos à velha ideia de Karl Marx, uma
ampliação correctiva da mesma ideia presente em Hegel. Na história os grande
acontecimentos ocorrem sempre duas vezes. A primeira como tragédia, a segunda
como farsa. Talvez nunca como agora haja motivo para dar razão a Karl Marx.
Tendo em conta o elevado número de farsantes na cena política mundial, aquilo
de que nos aproximamos bem pode ser uma farsa desmedida. O grande problema que
se coloca é aonde esta farsa pode conduzir. Tornar o mundo o palco onde se
desenrola uma farsa pode conduzir a que esta, tendo em conta o burlesco dos
farsantes, seja a porta para uma nova tragédia.
Um bom 2017.
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