sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Alguma preocupação

Wassily Kandinsky, Caprichoso, 1930

Apesar do humilhante flop dos chamados coletes amarelos nacionais, as forças políticas e os defensores das instituições da democracia representativa não devem subestimar o espírito que está por detrás do acontecimento. Por boçais e indigentes que possam ser certas intervenções, há um conjunto de sinais larvares que deveriam inquietar toda a gente. O mais preocupante é o ódio ao parlamento. Uma sociedade democrática não existe sem um parlamento, onde as diversas posições políticas e sociais encontram um lugar para se expressar e dirimir pacificamente interesses e perspectivas em conflito. O parlamento está no lugar da guerra civil ou da ditadura, que não é outra coisa senão uma guerra civil em que uma parte tem exército e a outra está desarmada. O pior que os partidos políticos democráticos – da direita à esquerda – podem fazer é achar que aquilo que se passou hoje, devido ao gritante fracasso, é irrelevante e tudo pode continuar na mesma. Não é por acaso que o ódio ao parlamento ressumou muitas vezes nas bocas dos candidatos a insurgentes. Em Portugal nunca foi grande a consideração popular pela instituição parlamentar. E isto nunca deve ser esquecido. O espírito do tempo é caprichoso.

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