Wassily Kandinsky, Caprichoso, 1930
Apesar do humilhante flop
dos chamados coletes amarelos nacionais, as forças políticas e os defensores
das instituições da democracia representativa não devem subestimar o espírito
que está por detrás do acontecimento. Por boçais e indigentes que possam ser
certas intervenções, há um conjunto de sinais larvares que deveriam inquietar
toda a gente. O mais preocupante é o ódio ao parlamento. Uma sociedade
democrática não existe sem um parlamento, onde as diversas posições políticas e sociais encontram um lugar para se expressar e dirimir pacificamente interesses e
perspectivas em conflito. O parlamento está no lugar da guerra civil ou da
ditadura, que não é outra coisa senão uma guerra civil em que uma parte tem
exército e a outra está desarmada. O pior que os partidos políticos
democráticos – da direita à esquerda – podem fazer é achar que aquilo que se
passou hoje, devido ao gritante fracasso, é irrelevante e tudo pode continuar na mesma. Não é por acaso que o
ódio ao parlamento ressumou muitas vezes nas bocas dos candidatos a insurgentes.
Em Portugal nunca foi grande a consideração popular pela instituição
parlamentar. E isto nunca deve ser esquecido. O espírito do tempo é caprichoso.
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