James Ensor, The Scandalized Masks
Há uma coisa profundamente inquietante no ataque terrorista
ocorrido esta semana em Estrasburgo. O inquietante não nasce do facto de o
atacante ser um lobo solitário, nem de ter perpetrado o ataque numa cidade
simbólica para a União Europeia, nem de o alvo ser um mercado de Natal. Tão
pouco brota de o atacante ter conseguido fugir e, posteriormente, ter sido
abatido, sem que se possa vir a conhecer as suas reais motivações. O inquietante nasce deste ataque já não ter provocado inquietação. Não
provocar inquietação não significa apenas que os europeus sabem que têm de
conviver com o terror dentro das suas fronteiras e que isso se banalizou e faz
parte do hábito social, ao qual se reage burocraticamente. Não provocar inquietação significa que uma zona obscura em
nós já legitimou a existência destes ataques. Ao nível consciente, ainda
sabemos que o terror é ilegítimo do ponto de vista do direito. Ao nível
inconsciente, a Europa, de certa maneira, já concedeu uma negra legitimidade fáctica
ao terror. E isto é inquietante. Profundamente.
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