Emmerico Nunes, O pintor e o modelo, 1909 |
- Quero pintá-la.
- Que horror, não lhe reconheço talento de maquilhador.
- Quem falou em maquilhá-la?
- Não falou?
- Ainda não desci tão baixo, a minha arte é outra.
- Quer dizer que pintar-me seria degradá-lo? Estou a ver a conta em que me
tem.
- Não, não se trata disso.
- Trata-se de quê?
- Eu não sou maquilhador, só isso.
- Não é e quer pintar-me? Acha que lhe permitiria que tocasse o meu
rosto?
- Eu não quero tocar o seu rosto.
- Ainda bem.
- Quero pintar o seu corpo.
- Mas não se maquilha o corpo todo, só o rosto.
- Eu não quero maquilhar-lhe o corpo, apenas o quero pintar.
- …
- Quero que se dispa e se sente tranquila, numa posição natural.
- E é assim que me quer pintar?
- É, é, claro.
- E julga que o vou deixar pôr esses seus pincéis nojentos em cima da
minha pele?
- Meu Deus, eu não quero pintar sobre a sua pele nua, mas pintá-la na
tela, um nu como o que qualquer artista faz.
- E se eu recusei casar consigo, acha que iria ser o modelo das suas
fantasias? Se quiser pintar um corpo nu, dispa-se e ponha-se à frente do
espelho. Dispenso ver o resultado.
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