António Soares, sem título, 1914 |
A atmosfera era tão difusa que nunca cheguei a perceber onde
me encontrava, nem o que faziam as pessoas. Umas entravam, outras saíam. Algumas
demoravam-se, como se aquele fosse o lugar onde habitavam. Andava perdido. Espreitava
as faces de quem via, mas também elas eram indistintas. De súbito, vi, ainda ao
longe, uma mulher vestida de preto. Caminhava como se deslizasse e foi-se
aproximando sem pressa. O rosto estava definido. Belíssimo. Senti uma vertigem
e uma sensação de terror nasceu em mim. Quando estava perto, perguntei-lhe se era
a minha morte. Sou a sombra de uma sombra, respondeu, enquanto passava pelo meu
corpo como se eu não fosse mais do que um espírito destituído de carne. Quando
acordei, uma sombra coava-se pela porta do quarto.
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