Willem de Kooning, 24 dibujos con los ojos cerrados, 1966 |
O
chapéu de aba larga, cor de mel com fita castanho escuro, descai para a direita,
uma postura largamente ensaiada ao espelho, para acentuar o ar másculo com que
o mundo o deve ver. Na mão direita ergue uma vara, talvez com uns três metros,
na verdade uma cana de bambu. Os braços abrem-se para equilibrar o corpo. Os sapatos
brilham batidos pela luz quentes do sol, que ilumina uma paisagem que combina
pequenos bosques e prados amplos, aonde não se vê, por enquanto, qualquer animal. O
homem, na casa dos trinta anos, encarna o papel de aventureiro em férias. Veste
um fato claro, uma camisa branca, o colarinho aberto. Exibe-se perante um grupo
de gente da mesma idade, em que proliferam as mulheres, algumas ninfas que habitam,
por certo, o ribeiro que ele se propõe atravessar. O tronco caído de uma árvore
abatida há pouco torna-se uma ponte, talvez com dez metros de comprimento. Os
pés poisam lateralmente, avançam com cuidado, ora um, ora outro, os braços
abrem-se, o bambu parece uma antena à procura de sinal. Ouvem-se gritos de
incentivo, o homem pára, pés firmes sobre o tronco estreito, sorri, a vara
erguida para os céus, com cuidado passa a mão pelo rosto e retoma a caminhada. Avança
o pé direito, apoia-o na ponte improvisada, assim que o firma com
segurança, logo avança o esquerdo, repetindo o ritual, enquanto a água dolente
do ribeiro corre serena e as árvores reverberam batidas pelo sol. Quando chega
ao fim da travessia, recebe um estrondoso aplauso, as ninfas particularmente
excitadas. Ele finca a cana no chão, com a mão esquerda retira o chapéu,
pegando com cuidado pela copa e dobra-se numa mesura excessiva, enquanto no
rosto exibe um sorriso rasgado. Sou um funâmbulo, diz.
Excelente.
ResponderEliminarAbraço
Muito obrigado.
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