quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Da antiga atracção da esquerda

(Henri Cartier-Bresson)


Esta fotografia de Cartier-Bresson, encontrada no Ponteiros Parados, explica por que a esquerda, há longos anos atrás, era muito mais atraente para uma certa juventude masculina que a direita. Num café, porventura parisiense, duas mulheres lêem o jornal. Não lêem, todavia, o mesmo jornal. Uma lê o Le Monde, enquanto a outra segura nas mãos o Le Figaro, embora o seu olhar se incline, num misto de espanto e de desdém, para a primeira. Estamos perante mulheres de origens sociais diferentes? Não, pois ambas frequentam o mesmo espaço. Mas enquanto a que lê o Le Figaro (jornal conotado com a direita francesa) se veste formalmente, de acordo não apenas com a idade mas também com o grupo social a que pertence, a jovem e concentrada leitora do Le Monde (jornal afecto à esquerda francesa) exibe, na forma de vestir despreocupada que é a sua e com a gentil conivência da mini-saia, as belas pernas com que a lotaria genética a dotou. Esta figura, que combina a exibição despreocupada do corpo com a concentrada preocupação política, tornou-se um ideal que levou para a esquerda muitos e muitos rapazolas, cujas hormonas ansiavam por extraordinárias aventuras e deliciosos paraísos terrestres. Não me estou a referir, claro, à luta de classes e à edificação da sociedade comunista, mas a tudo aquilo que a leitora do Le Monde parece prometer às infelizes hormonas de uma certa juventude burguesa.

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