(Henri Cartier-Bresson)
Esta fotografia de Cartier-Bresson, encontrada no Ponteiros Parados, explica
por que a esquerda, há longos anos atrás, era muito mais atraente para uma
certa juventude masculina que a direita. Num café, porventura parisiense, duas
mulheres lêem o jornal. Não lêem, todavia, o mesmo jornal. Uma lê o Le Monde, enquanto a outra segura nas mãos
o Le Figaro, embora o seu olhar se
incline, num misto de espanto e de desdém, para a primeira. Estamos perante
mulheres de origens sociais diferentes? Não, pois ambas frequentam o mesmo
espaço. Mas enquanto a que lê o Le Figaro
(jornal conotado com a direita francesa) se veste formalmente, de acordo não
apenas com a idade mas também com o grupo social a que pertence, a jovem e
concentrada leitora do Le Monde (jornal
afecto à esquerda francesa) exibe, na forma de vestir despreocupada que é a sua
e com a gentil conivência da mini-saia, as belas pernas com que a lotaria
genética a dotou. Esta figura, que combina a exibição despreocupada do corpo
com a concentrada preocupação política, tornou-se um ideal que levou para a
esquerda muitos e muitos rapazolas, cujas hormonas ansiavam por extraordinárias
aventuras e deliciosos paraísos terrestres. Não me estou a referir, claro, à
luta de classes e à edificação da sociedade comunista, mas a tudo aquilo que a
leitora do Le Monde parece prometer
às infelizes hormonas de uma certa juventude burguesa.
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