(imagem daqui)
A produção do original, a irrupção do não visto, o culto da novidade
possuem uma directa relação com a nossa percepção da temporalidade. Introduzem
diferenças na vida quotidiana e são essas diferenças que, sobrepondo-se às diferenças
naturais dadas pelos ritmos da Terra – o dia e a noite ou as estações do ano –,
criam uma espécie de segunda percepção psicológica da duração. Se a primeira,
fundada nos ritmos do nosso planeta, se inscrevia de imediato no nosso próprio
ser, tanto na dimensão biológica como na psicológica, a percepção da
temporalidade, a partir da experiência da novidade, introduz um ruído na nossa
relação com o tempo. Esse ruído é insignificante se o ritmo de produção de
novidades é diminuto. Mas num mundo como o nosso, onde o valor da novidade, ao
ser consagrado pela universidade e pelo mercado, se tornou num valor absoluto,
os seres humanos estão submetidos a um ruído permanente e a um desconcerto
entre estas duas facetas psicológicas da temporalidade. A inovação, tal como
hoje é compreendida na retórica dominante das sociedades de mercado, não passa
de poluição. Não me refiro à poluição que a rápida obsolescência dos produtos
da inovação representa. Refiro-me à poluição que se abate sobre os nosso ritmos
de vida, sobre o desejo de estabilidade que reside no fundo de cada ser humano,
sobre as formas de vida que, durante milénios de civilização, se enraizaram em
nós. A inovação, tal como é compreendida hoje em dia, não é um bem, mas o
sintoma de uma profunda doença que estilhaça a ancestral relação do homem com o
tempo e com a Terra. O tempo, essa estrutura que permite a existência dos
homens e das sociedades, tornou-se absolutamente incompreensível devido à poluição
inovadora. Como corolário, os homens são a cada dia mais estranhos a si mesmos.
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