sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Poema 9 - Aquilo que de novo chega


Aquilo que de novo chega,
- a súbita melodia do vento pelos ramos,
a folhagem das tuas mãos vazias, -
chega sempre tão tarde,
que a esperança se desvanece
na distância que nos separa dos céus.

Desconheço a ordem da vida
e todas as rosas são antecipações da morte,
prenúncios de cinza que cantam a tua ausência.
Tão longe te perdeste, casta Eurídice,
presa na névoa impura do tempo;
tão longe ficou a hora do amor silencioso,
das palavras brancas de tanta dor.

Ergo-me e volto aos dias de primavera,
mas os campos estão sombrios
e o fardo pesa-me sobre os ombros.
Esqueci todas as regras do amor
e tomo a desventura como destino
ao caminhar por veredas de sombra e terra.

2 comentários:

  1. Desta vez teria de ser o Gluck a musicar este belíssimo e pungente poema, para ser possível um final feliz. Sinceramente, tem mesmo de começar a sério a pensar em publicar. DEixo-o com a Janet Baker em Orfeu...
    http://www.youtube.com/watch?v=C1B85UQT4AY

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  2. Muito obrigado, Maria. Também pela Janet Baker. Quanto à publicação, não nos precipitemos.

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