Os domingos
de sol são dias votados ao silêncio.
Neles, premeditam-se
grandes assassínios:
a fantasia
cresce desmedida,
salta os
muros da cidade,
e corre
pelas avenidas da memória,
à procura
das raparigas de outrora,
jovens e frescas
raparigas
que iluminavam
o sol desses fatigados dias.
Não há lugar
que nos cure,
que do
passado ofereça um sinal
ou traga o ferrear
dos eléctricos nos carris.
Restam raparigas
submersas no tempo,
sem rosas
nas casas onde empardeceram,
sem água
para regar os gerânios,
sem
genealogia para um jardim
onde as mãos
chamassem pela terra.
Mais um belíssimo poema para recolha num futuro livro, editado por uma ilustre mas obscura editora, daquelas que vão desparecendo, situadas em ruazinhas estreitas, com editores velhinhos que sabiam o que era um bom livro e que o publicavam contra todas as regras da boa gestão financeira. Gente do tempo das raparigas do poema, mas que deixou genealogia. Enfim, «não há lugar mais inabitável do que aquele em que fomos felizes», dizia Cesare Pavese. Reconstruamos os domingos, sem assassínios premeditados. Muito bom. Muito bom mesmo.
ResponderEliminarO Pavese tem toda a razão, mas esses lugares são não só inabitáveis como são inúteis. Quando se volta a um lugar desses, há sempre um estranho sentimento da inutilidade da revisitação, a que se adiciona de inutilidade do próprio lugar. Muito obrigado pelas suas palavras. Quanto à publicação, há outras coisas que têm procedência sobre estes poemas. Veremos se há alguém que lhes pegue.
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