Perante o descalabro que se aproxima, perante a intensificação da
velocidade com que a vida económica se transforma tornando tudo e todos em pura
obsolescência, o sentimento comum refugia-se na necessidade de fazer qualquer
coisa. É preciso agir, a praxis tem a última palavra. Este sentimento
encontrou, nas teses de Marx ad Feuerbach, na celebérrima 11.ª tese, a sua
consigna eterna: “Os filósofos têm apenas interpretado o
mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”
Se há, ao cimo do planeta, algo ou alguém que percebeu a tese
marxiana, esses foram o capitalismo e os seus defensores e agentes. O
capitalismo é essencialmente transformador do mundo e das próprias figuras sob
as quais ele próprio se apresenta no palco do drama mundano. Por isso, faz todo
o sentido o que Slavoj Žižek afirma: “A pressão no sentido de «fazer alguma coisa»
assemelha-se neste caso à compulsão supersticiosa que nos leva a fazer este ou
aquele gesto enquanto observamos um processo sobre o qual os nossos gestos não
têm qualquer influência real. Não serão os nossos actos, muitas vezes, gestos
desse tipo? O velho dito: «Fala menos e faz mais» é uma das cosas mais
estúpidas que podemos dizer, ainda que nos limitemos aos critérios menos
elevados do senso comum. (S. Žižek, Da Tragédia à Farsa, p. 19)”
Aqueles que querem um mundo equilibrado e com um módico de justiça
talvez tenham que perceber que muitos dos seus actos não passam de rituais
mágicos sem capacidade de interferir no real. No momento, em que o
desenvolvimento do capitalismo atinge o paroxismo, mais importante que a acção,
muitas vezes cega e sem sentido, é pensar. Estamos no tempo da teoria. O que
quer dizer isso? Que é tempo de compreender o que as coisas são e como operam.
Para quê? Para compreender a dimensão trágica que elas contêm e a forma como
lidar com elas, amenizando a inevitável tragédia que se aproxima. Estes ainda
são tempo da filosofia.
Ah, que bom que estás lendo e respeitando o Zizec. Sem dúvida há ações e arremedos de ações. O pp Marx pensou muito bem antes de propor qq coisa (aliás esse é o espírito do socialismo científico em oposição ao utópico). Mas faz tempo que muita gente deixou mesmo de pensar e repensar. Os que recitam o Marx, são que nem aqueles superticiosos que o Zizec cita e o Capital é sua Bíblia desgastada. Pensar direito hj é juntar a reflexão do Marx (e de outros tantos) sobre o social, e a de Freud e Lacan (e mais outros) sobre o individual. Esses , por sinal, são grandes instrumentos pra nos ajudar a descortinar o que está por trás das nossas ações e inações (Já leste Hamlet por Lacan?). Mas cuidado, por trás do super ativismo do Kapital e do pseudo-ativismo de alguns, há o imobilismo de outros tantos que convém igualmente bem ao primeiro.
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