Harmennsz van Rijn Rembrandt - El regreso del hijo pródigo (1668-69)
O pai respondeu-lhe: "Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e revivei; estava perdido e foi encontrado. (Lucas 15: 31-32)
A parábola do filho pródigo vem recordar-nos que a actual direita política, com a sua ideologia ultra liberal, cortou qualquer amarra - a não ser para efeitos de guerrilha política e de propaganda - com o cristianismo. Por muito que os seus membros batam com a mão no peito, frequentem a confissão e não faltem à missa, a sua orientação política é radicalmente anti-cristã. É Michel Foucault que sublinha, na compreensão política do Ocidente, a importância do poder pastoral. O soberano é visto como um pastor, e o pastor tem de dar conta de todas as suas ovelhas. Não pode perder nenhuma. É no âmbito desta compreensão do poder, que se deve interpretar aquilo a que chamamos o Estado Social, uma criação em que participou, não por acaso, a antiga Democracia-Cristã. A parábola do filho pródigo é um texto central para a compreensão do poder pastoral. Como o pai da parábola narrada por Lucas, também o soberano quer o todo nacional reunido. Para tal age em conformidade. E a conformidade com esse desígnio é-nos dada pelo Estado Social.
A aposta na destruição desse Estado Social levada a cabo pela direita liberal é a prova clara de que o cristianismo há muito deixou de a interessar. E quando o usa é apenas de uma forma instrumental, para enganar os cidadãos eleitores ainda crentes. O processo de destruição dos sistemas de saúde, educação e protecção social a que estamos a assistir na Europa é o sinal do corte radical que as elites europeias estão a fazer com um dos pilares da cultura e tradição ocidentais, o cristianismo. Hoje não há lugar para os filhos pródigos. Mas os filhos pródigos não são aqueles que dissipam os bens, que vivem acima das suas possibilidades? Sim. Mas para a ideologia triunfante, com excepção dos muito ricos, qualquer um vive, por miserável que seja, acima das suas possibilidades. Qualquer um é um filho pródigo e não há pai algum que o deva receber. Que emigre, que desapareça, que vá morrer longe. Para que é necessário um Estado Social?
O grande paradoxo é que as Igrejas cristãs, nomeadamente a ICAR , não parecem dispostas a demarcar-se dessa crueldade social, apesar de alguns fogachos.
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A ICAR, como outras, é constituída por grupos diferentes e com forças diferentes. A tensão também se manifesta lá. Julgo, porém, que há uma ampla percepção de que o liberalismo, tal como praticado actualmente, é não apenas cruel mas dissolutório da comunidade e da própria Igreja e dos valores que ela suporta. Assisti a algumas intervenções na TV do Presidente da Caritas portuguesa, por exemplo, e o senhor pareceu-me muito veemente e com uma clara consciência do problema. Julgo que se está a desenhar um novo entendimento do conceito de caridade (caritas, amor), longe do mero suporte aos desvalidos com a intenção de os manter como tal. Os próprios conceitos suscitam compreensões dinâmicas e o novo papado parece muito interessado nisso. A ICAR nunca será revolucionária, mas para revolucionário já temos o governo...
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Boa ironia, a revolução continua já o Salazar dizia...
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