A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Como se destrói o ensino público? Facilmente. Basta o cheque-ensino
aprovado pelo governo. Aparentemente ele serve para aumentar a liberdade de
escolha das famílias, ao permitir que elas optem entre escolas públicas e
privadas. Na prática, visa financiar os generosos lucros das empresas privadas
de educação e acabar com grande parte das escolas públicas. Mas, se as escolas
públicas forem boas, por que razão hão-de as famílias escolher colégios
privados?
Quem conhece a educação sabe perfeitamente que a percepção das pessoas
é muitas vezes distorcida. Quem não conhece casos de escolas com resultados
idênticos ou melhores que outras, com menos problemas disciplinares e menos
comportamentos desviantes, e que são percepcionadas de uma forma mais negativa?
A formação da imagem das instituições é um processo social complexo e que
muitas vezes, por motivos de moda, de propaganda, de campanhas negativas, etc.,
é completamente distorcido.
Ora nós temos assistido, ao longo da última década, a uma campanha
sistemática que tende a mostrar que as escolas privadas são melhores que as
públicas, devido aos resultados dos exames. Essas campanhas, muito bem
orquestradas, escondem sempre duas coisas essenciais: a origem social e
cultural dos alunos e aquilo que se passa, depois, nas universidades. Alguém,
há tempos, escrevia que os super-alunos dos super-colégios quando chegam ao
ensino superior perdem os super-poderes. Isto porque um estudo da Universidade
do Porto mostrou que, apesar de terem notas inferiores nos exames do
secundário, os alunos do ensino público vão melhor preparados e obtêm, no
ensino superior, melhores resultados. Mas qual é a percepção que as pessoas
têm? O privado é melhor.
Imaginemos o concelho de Torres Novas. Se o cheque ensino for para a
frente e cobrir para substancial das propinas, facilmente se compreende que
investir em educação, pagando miseravelmente a professores, é um excelente
negócio. Em breve teremos dois ou três colégios privados que disputarão entre
si os alunos existentes, a começar pelos melhores. Por meritório que seja o
trabalho das escolas públicas concelhias – e, na verdade, é-o – elas não terão
qualquer capacidade para reter os alunos, mesmo que o ensino oferecido pelos
novos colégios seja pior e menos capaz de preparar os alunos para o ensino
superior. A ilusão do estatuto – que bom, tenho o filho no colégio privado – e
o trabalho de propaganda farão o serviço. Em meia dúzia de anos, Nuno Crato
conseguirá destruir aquilo que foi o trabalho de muitas e muitas gerações de
portugueses de todas as classes sociais.
O ataque ao ensino público, em todos os níveis, já vem do apogeu do Cavaquismo, agora apenas se pretende desferir o golpe final.
ResponderEliminarO pior é que aos "doutorzecos" de aviário, se vão seguir os pré-universitários de aviário.
E quem melhor do que essa espécie de Bin Laden, com barba de três dias, de nome Crato, para cumprir a missão?
Bom fim-de-semana
Um abraço
É verdade, o ataque subreptício ao ensino público começou no cavaquismo, no tempo do Roberto Carneiro. A partir daí, muito se tem manobrado na obscuridade até chegarmos ao cartismo e à destruição que se avizinha.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço