Georgia O'keeffe - Black Place III (1946)
Oiço o negro
salmodiar das ruas,
o anúncio de
um outro, o pestífero calvário.
As paredes
garatujadas e sujas, restos de
caliça, sombras
conjuradas pela noite.
Um destino
de erva seca espera-nos
e se uma
porta se abre, o vazio chega.
Que fazer
dos caminhos do homem, se tudo arde?
A breve
decomposição das pétalas anuncia
a longa degeneração
da estirpe,
os ossos
fragmentados, a pele seca,
o corpo
arrastado pelo estremecimento da vida.
Mães
peregrinam, os joelhos na terra, o coração
rasgado em
cada filho que não nasce.
O salmista
desce do cavalo e abre as mãos,
anjo impuro
escondido numa caverna,
e traça um
círculo de sombra púrpura
na poeira
metálica que da pátria se desprende.
De pátria que foi cruel "lugar de exílio", até ser ruína decadente e madrasta, a História marcou-a pela fatalidade.
ResponderEliminarBoa semana
Um abraço
Na verdade, a pátria é uma metonímia deste mundo que nos coube em sorte, um mundo onde as ruínas espreitam sob o brilho do neon.
EliminarBoa semana
Abraço