Pierre Bonnard - L'Automne. Les Vendanges (1912)
Um profeta enlouquecido colhe o Outono
e deixa-o arder no lume do esquecimento.
Escorrem da lareira resinas, óleos raros,
o vinho irisado que trazias na mão,
um copo sequioso, quase vazio...
E tudo declina tocado pelo uivo das horas.
Configuro as fronteiras da pátria,
a urze cinzelada pelos ventos silenciosos,
um rasto de espuma e saliva, o canto da boca.
Roubo-te os séculos e a lepra dos homens.
Risco-te o fio das traições e o sono da morte.
Rasgo-te a carne e a alma perdida.
Ó sublime demência que desce em mim.
As ruas vazias, olhos estropiados,
o odor da naftalina na casa ao lado.
O Outono é uma rua de cinza e pedra azul,
a praça desfolhada pelo cansaço do Verão,
a irrevogável fronteira que em ti se fecha.
Eu gosto do Outono. Talvez porque nos devolve à realidade que o Verão, cínica e ciclicamente, nos tenta ocultar.
ResponderEliminarAbraço
Sim, o Outono é preferível mil vezes ao Verão.
EliminarAbraço
Belo. Também gosto muito do Outono, é acolhedor.
ResponderEliminarMuito obrigado, Maria. De facto, o Outono é uma bênção.
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