Odilon Redon - O silêncio
Um texto novo a intercalar nos cadernos do esquecimento provenientes do meu antigo
blogue averomundo.
É no Fédon, salvo erro, que
Platão nos diz que o exercício da filosofia não é outra coisa senão aprender a
morrer e a estar morto. Uma das virtudes de estar morto é o silêncio. De certa
maneira, a filosofia será uma aprendizagem do silêncio. É curioso que esta
disciplina, ao tomar a configuração que ainda hoje reconhecemos nela, tenha
colocado as coisas deste modo. A curiosidade deriva de a tradição filosófica se ter afirmado pelo exercício
abundante do logos, pela loquacidade
mais extrema. O silêncio dos mortos e dos que aprendem a morrer foi substituído
pelo ruído dos argumentadores. Se isto é assim, nesse local onde o exercício da
restrição dos desejos e da palavra eram o ideal regulador, o que dizer do
espaço público? Aí a cacofonia é generalizada. O uso abundante da palavra, o
prolixo dos discursos, a gritaria desordenada mais do que factores do
esclarecimento (enlightenment) são
origem da extrema confusão. Todos nós, a começar por mim, deveríamos exercitar
a virtude monástica do silêncio. Quando nos ocorresse uma ideia luminosa, o
melhor mesmo seria omiti-la, poupar os outros à excelência da nossa imaginação
ou do nosso intelecto. O problema, porém, é que fomos educados na tradição
platónica. Quando falamos no aprender a morrer e a estar mortos, quando
suspeitamos que o silêncio é uma virtude cardinal, aquilo que queremos é falar,
falar, falar.
Maneiras diferentes de sentir o silêncio.
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Abraço
Isso, maneiras diferentes de viver o silêncio.
EliminarAbraço