domingo, 20 de julho de 2014

A luz decai

José Manuel Ruiz-Zarco Perez - Atardecer (2002)

A tarde desce e o cansaço toma conta da cidade. Aqui e ali abrem-se frestas de luz, mas tudo está já envolvido numa tonalidade triste e envergonhada, folhas a amarelecer, a tremer ao vento, a preparar a queda que virá. Os homens passam distraídos, presos na vida que lhes calhou, apressados, olhos fixos nas órbitas, fantasmas adiados. Ao longe, ainda há campos, o verde há muito os abandonou. São uma mancha de cinza sombreada pelas nuvens, um traço esquivo na parede da memória. A luz decai e eu decaio com ela, como se cair fosse o único destino que aos mortais estivesse reservado. A noite não tardará. (averomundo: a prosa dos dias, 2007/10/27)

2 comentários:

  1. Será que o decair da luz é o caminho irreversível para a escuridão ou somente uma simples travessia da penumbra seguida do regresso à claridade?

    Um abraço

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    1. Tudo neste mundo é transitório. Isso não significa que os períodos de trevas não sejam cada vez maiores e mais densos. Um dia, porém, virá a luz.

      Abraço

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