José Manuel Ruiz-Zarco Perez - Atardecer (2002)
A tarde desce e o cansaço toma conta da cidade. Aqui e ali abrem-se
frestas de luz, mas tudo está já envolvido numa tonalidade triste e
envergonhada, folhas a amarelecer, a tremer ao vento, a preparar a queda que
virá. Os homens passam distraídos, presos na vida que lhes calhou, apressados, olhos
fixos nas órbitas, fantasmas adiados. Ao longe, ainda há campos, o verde há
muito os abandonou. São uma mancha de cinza sombreada pelas nuvens, um traço
esquivo na parede da memória. A luz decai e eu decaio com ela, como se cair
fosse o único destino que aos mortais estivesse reservado. A noite não tardará.
(averomundo: a prosa dos dias,
2007/10/27)
Será que o decair da luz é o caminho irreversível para a escuridão ou somente uma simples travessia da penumbra seguida do regresso à claridade?
ResponderEliminarUm abraço
Tudo neste mundo é transitório. Isso não significa que os períodos de trevas não sejam cada vez maiores e mais densos. Um dia, porém, virá a luz.
EliminarAbraço