A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Quando em 1975, na sequência dos acontecimentos do 11 de Março, a
banca portuguesa foi nacionalizada, não se estava apenas perante uma opção
ideológica que pretendia tornar Portugal um país socialista. A motivação
principal residiu em razões que hoje em dia não são trazidas à discussão
pública. Essas razões, bem vivas na época, prendiam-se com a possibilidade ou
não de instaurar e consolidar uma democracia política no país. A banca era de
tal modo poderosa, controlava de tal maneira a economia portuguesa, que a
questão do regime democrático dependia da cooperação dos sectores financeiros,
que eram, na verdade, pouco cooperantes. A nacionalização da banca visou
controlar a economia, para que a democracia política se tornasse possível. O
devaneio da sociedade socialista veio por acréscimo.
Depois, estando a democracia política consolidada, começou a abertura
da banca à iniciativa privada e a privatização dos bancos nacionalizados. Os
banqueiros privados emergiram então como uma espécie de novos heróis. O BCP de
Jardim Gonçalves era incensado pelos media
e, daí para a frente, a banca, sem grandes dispositivos de controlo público,
tomou conta do país. E o país em que vivemos hoje em dia, o país da crise
profunda e da pobreza em crescimento, é o país que os nossos banqueiros fizeram e impuseram. As crises, diferentes caso a
caso, que têm vindo a afectar a banca – algumas dessas crises são verdadeiros
casos de polícia, investigados ou não –, vieram tornar claro que um dos grandes
problemas de Portugal reside na avidez desmesurada dos seus banqueiros. A banca
nunca se interessou por Portugal, mas apenas e só pelos seus negócios. O pior
foi que os políticos do arco da governação ficaram seduzidos pelo charme do dinheiro e esqueceram-se de
controlar o monstro.
Com um poder político subjugado, a banca portuguesa tornou o Estado –
por exemplo, através das chamadas parcerias público-privadas – seu refém. O
resultado tornou-se claro a partir de 2011. Estamos todos a ser obrigados a
pagar os desvarios dos governos seduzidos pelo encanto dos banqueiros. Talvez
hoje em dia, a banca não se oponha à democracia e não haja necessidade da sua
nacionalização, talvez. Mas se queremos construir uma sociedade minimamente
decente, então precisamos de alguém que, no poder, em vez de se deixar seduzir
pela força do dinheiro, decida controlar rigorosamente a actividade bancária e
limitar drasticamente o poder dos banqueiros. Caso contrário, os portugueses
serão cada vez mais pobres e impotentes, e o país caminhará para um tipo de
vida muito semelhante ao das plutocracias africanas.
Em 14 de Março de 1975, para além da opção ideológica, era importante estancar a sabotagem da economia e a fuga de capitais que os banqueiros da altura promoviam.
ResponderEliminarA Banca Pública, desde que tivesse sido bem gerida, poderia ter sustentado a economia do país e, mais tarde, ser-lhe-ia possível coexistir perfeitamente com bancos privados administrados por outro tipo de gente.
Acontece que a partir de Novembro, o Poder optou por criar Comissões liquidatárias no lugar das Comissões Administrativas, de modo a criar as condições ideais para a reprivatização e arranjar espaço para novos bancos para os "amigalhaços".
Os "verdadeiros patriotas", que são esses banqueiros, estão aí e com provas dadas e o grande patriota que lhes franqueou as portas, assobia para o lado.
Um abraço
Sim, o grande problema das empresas nacionalizadas foram os gestores que foram nomeados para as liquidar e acabar com a experiência, tentando fazer crer que a boa gestão só existia nas empresas privadas. Parece que a realidade não se conformou. Todos esses heróis da iniciativa privada estão a mostrar exactamente o contrário.
EliminarAbraço